Tenho um amigo de adolescência que foi uma grande referência pra mim. Com ele, conheci Emerson, Lake and Palmer, Jethro Tull, Genesis, além de ter vivido muitas aventuras em festas e funções. Conjunturas da vida, esse meu amigo saiu de Cachoeira do Sul, e foi morar em outra cidade. E depois se mudou para outro município do interior gaúcho. Eis que, como temos uma relação de afeto e amizade, trocamos mensagens. Só que ele vive em um mundo que não acredita naquilo que pra mim é algo óbvio: que estamos atravessando uma crise climática.
Esse site, lançado em 18 de agosto de 2021, vem justamente para construir pontes entre pessoas e organizações que estão preocupadas em como abordar questões relacionadas ao clima com públicos do qual o meu amigo faz parte. Há várias iniciativas interessantes e pontas para serem unidas.
Muitos ainda não perceberam que estamos todos no mesmo navio (nem digo que é barco, porque nessa embarcação também há divisão em várias classes), digo, nave mãe no meio do universo. Há séculos que se vem debatendo qual é melhor forma de viver em sociedade. E cada país, estado, município decidia o que era melhor pra si. Só que hoje, já se sabe que o que se faz numa região, impacta em outra. As delimitações fronteiriças são uma invenção do Homo sapiens. A natureza não as reconhece. E sobre o funcionamento dos fluxos, correntes e mecanismos de trocas de energia, questões de física, onde mais de 99% dos cientistas comprovam, não deveria ser questionado por quem não é especialista da área.
Mas, infelizmente, estamos atravessando uma fase da História do Brasil na qual a sensatez e o discernimento não têm sido levados a sério, especialmente por gente que está no poder. E todo dia somos bombardeados nessa era da infodemia. Fica difícil distinguir o essencial do importante, o vital para a sobrevivência e o entretenimento do que é notícia de verdade. É tanta munição pra cima de quem vem lutando há anos pela busca da verdade, que é preciso saber sobreviver em meio ao tiroteio.
Para além da maldita polarização entre os chimangos e maragatos – no estado mais austral do Brasil há bastante tempo isso já existia, é terra do Grenal, do churrasco versus veganismo – surgiram as redes sociais e os grupos de whattsApp onde circulam mensagens, desinformação e muitos discursos que ficam, na maior parte das vezes, impossível de argumentar racionalmente com questões científicas.
Aliás, vivemos um tempo que as próprias palavras vêm sofrendo uma lixiviação, um desgaste do seu próprio significado. O mais importante, muitas vezes não é o que é dito, mas sim quem diz. E aí, tenho aprendido que estão sendo usadas narrativas e fórmulas de convencimento que utilizam muito mais do que argumentos impensáveis para enganar as pessoas com relação à situação do planeta.
Por essas e por outras eu acredito que precisamos surfar em ondas além da produção jornalística de explicitar o que pensam as vozes dominantes. É preciso navegar mais sobre como atravessar o mar revolto provocado pelo impacto das declarações e de posicionamentos. Se esse cara que está na presidência faz e fala coisas jamais imaginadas anos atrás, e pouco ou quase nada acontece, é porque tem teias de suporte que foram tecidas por muito tempo.
Ou seja, vamos ter que conviver por um bom tempo com pessoas que não têm ou não querem ter acesso a informações que são contrárias às suas crenças. Há tantas narrativas que foram espalhadas sem sentido (aparentemente). Mas que são complexas para tentar diminuir o estrago, tal qual querer juntar as penas de um travesseiro que foi esvaziado da torre de uma igreja.
E por transitar em vários ambientes, ter um pé no interior, outro na Capital, de um dos estados que tem ficado para trás em quesitos de evolução civilizatória, que avalio que somente poderemos avançar se soubermos nos relacionar com quem pensa e fala diferente de nós. Vamos ter que com versar – versar com – pessoas que tem coisas em comum para constatarmos que a questão é muito mais complexa do que nós contra eles.
Isso talvez pode soar estranho para muitos que estão lendo essas linhas. Mas hoje, sinto que precisamos desesperadamente de espaços que apontem trilhas de que podemos sim, evoluir. Há luzes no fim do túnel. Tem incontáveis casos de colaboração, união de forças que superaram dificuldades talvez piores que essa que estamos atravessando. Há gente, grupos, coletivos, organizações, empresas, governos que estão empenhados em fazer a sua parte para diminuir as emissões de desespero e de carbono, apesar de tudo.
Esse site é dedicado principalmente a pessoas sensíveis, artistas, comunicadores e tantos outros profissionais, que compreendem minimamente a complexidade do que esse emaranhado de ecossistemas significa. Precisamos trocar, desaprender, errar, acertar, enfim, estar abertos a perceber novos ângulos. Estar com disposição de colocar a mão na massa ou na argila…
É imperativo traçar caminhos para que mais gente compreenda que tudo está interligado. E que as escolhas do dia a dia, inclusive a ‘inofensiva’ mensagem que gostamos, concordamos e passamos adiante, mas que não é verdadeira, interfere na vida de espécies, comunidades e pode até mesmo ser fatal.
Por fim, agradeço muito sua leitura, se chegou até aqui. A intenção é disponibilizar muito conteúdo. E também aprender muito com vocês. Mandem feedback, comentem. A intenção é gerar sugestões de pauta, ser ponto de partida de iniciativas, projetos, promover inspirações e aproximar gente que tem a mesma intenção: deixar um mundo menos detonado para as futuras gerações.