O que podemos fazer para ajudar a melhorar esse cenário aterrador?
A nossa sociedade está muito doente. Confesso que tinha preparado tratar de outros temas para a coluna desta semana. Mas, simplesmente, não consigo tratar de algo diferente do que não esteja pulsando no momento. O impacto pode ser sentido em qualquer tela ou grupo de pessoas. Quem é sensível sabe: isso também faz parte do contexto do ambiente, do meio em que estamos mergulhados. Fico me perguntando: o que é preciso acontecer mais para que se tomem medidas para mudarmos o rumo da história?
O que temos vivido nos últimos tempos com situações completamente absurdas – tipo essa do assassinato de quatro crianças a machado – precisa ser encarado como um indicador do nível de sanidade mental que estamos vivendo. O fato aconteceu quarta, dia 5, pela manhã, em Blumenau. Mas atingiu todas as pessoas que sabem o que isso pode significar em termos de saúde pública. Só que se deparar com notícias absolutamente inacreditáveis tem sido algo banal nos últimos tempos no Brasil.
Não tenho conhecimento profundo de segurança pública, tão pouco me interesso em compreender melhor esse tema. Talvez porque me falte estômago. Como repórter de Polícia, cobri muitos tipos de crime. Até que um dia, depois de ter passado por poucas e boas, pedi: “Por favor, posso parar de cobrir polícia?”, implorei para o meu chefe de reportagem da época. Colocar “focas”, como os jornalistas chamam os novatos, a cobrir essas pautas dá uma boa base profissional, sempre ouvi isso. Talvez porque quem encara esses tipos de situação vai ficando com a “casca mais grossa”.
Só que um crime dessa envergadura mexe com várias coisas dentro da gente. Nos deixa abalados. Nos deixa incrédulos diante do futuro da humanidade – nos últimos oito meses ocorreram 10 ataques em escolas. O que leva uma pessoa fazer esse tipo de crime? Por que todos os casos de assassinato em escolas foram praticados por homens jovens brancos? As redes sociais usadas por delinquentes contribuem para que esse tipo de absurdo aconteça? Não, não tenho a resposta para todas as perguntas. Talvez os psiquiatras, psicólogos ou sociólogos tenham.
Depois de ter vivido tantas situações, frequentado diversas delegacias e tido contato com muitos servidores dessa área e ter estudado um pouco de psicologia entendo que esse episódio e tantos outros que aconteceram é só a ponta de um iceberg de um sistema onde a vida tem um valor secundário.
Confesso que nem quero saber mais detalhes do maldito episódio. O que sei é que precisamos saber transitar, sobreviver a esse mundo repleto de desigualdades e problemas sociais. Sou privilegiada. E provavelmente, você que me lê também. Está mais do que comprovado que se cada um pensar só no seu umbigo, a coletividade ficará cada vez pior.
Então o que podemos fazer para ajudar a melhorar esse cenário aterrador? Sugiro alguns caminhos. Não dá mais para as redes sociais serem um território sem lei, sem qualquer regulamentação. Pois o nível de insanidade que anda solta é tão grande, que não há nada que impeça que delinquentes fiquem incentivando gente de cabeça fraca a achar bonito a cometer crimes.
Vocês viram o que está rolando depois desse massacre em Blumenau? Várias fontes confiáveis têm pedido para não se divulgar o nome do sujeito que cometeu essa tamanha violência. Tudo para que ele não ganhe mais projeção! A busca por cliques, visualizações (leia-se mais dinheiro para as plataformas) está colaborando – e muito – também com a qualidade da cobertura jornalística. Quanto mais sanguinária, sensacionalista, mais audiência. E aí indago: até que ponto a tecnologia está nos tornando seres melhores, mais civilizados?
Por isso, defendo a regulamentação das redes sociais já. É um caminho. Intensificar a pesquisa e a localização de pessoas com transtornos mentais que representam riscos à sociedade é outro. Mas, porém, contudo, todavia (lembrando a música da Rita Lee) enquanto o dinheiro for o Senhor Deus do Universo tenho dúvidas se vamos conseguir avançar para melhorar nosso padrão vibratório, nossas relações e perceber o que acontece com o outro.