Violência da sociedade está dentro das escolas. E esse não é só um problema dos governos
A cada volta na espiral da tal ‘evolução’ tecnológica, nos deparamos com situações jamais vividas na História. Para o bem. E para o mal. Com o mundo interconectado, onde boa parte das pessoas se relaciona através de telas, há lados da nossa humanidade que estão penando para lidar com situações inimagináveis tempos atrás.
Hoje a velocidade de disseminação de narrativas que nos deixam tontas, desconcentradas é maior que a de carros de Fórmula 1. Como se proteger e digerir tantos bombardeios de insanidades? Somos todas cobaias de experimentos e ousadias de quem foi picado por vetores que espalham pavor, medo e insensatez.
Mais que uma invasão
A escola onde meu filho de 16 anos estuda aconteceu um episódio que denota essa situação. No dia 3 de abril, uma segunda-feira de 2023, um mocinho conseguiu entrar na sala de aula de uma das turmas do segundo ano do ensino médio. A professora, logo percebeu a carinha diferente, foi indagar como ele havia entrado ali. Ao ser confrontado, o adolescente saiu correndo. Fugiu sem deixar pistas.
Foi o suficiente para um grupo de pais ficar indignado com a falta de segurança. Mas o pânico mesmo se instalou depois da fatídica quarta, dia 5. Nesse início de abril o Brasil tomou conhecimento de um dos crimes mais bárbaros da história na creche em Blumenau. Na escola do meu guri, surgiu aviso em banheiro escrito no espelho para espalhar medo. Só que as câmeras não registraram alguém de fora entrando do banheiro. Ainda espalharam mensagem falsa, fakenews, com informações atribuídas a direção do colégio. A comunidade escolar, assim como a direção, ficou desnorteada, pois nunca tinham passado por isso.
Nem preciso contar que depois disso, os pais não só da escola do meu filho, mas de todo Brasil ficaram apavorados. Com relação à escola onde aconteceu esse episódio, confio nas medidas de segurança adotadas. Acredito que confiar na direção neste momento, é um bom caminho.
Para tentar apaziguar os ânimos e provocar uma reflexão do que está por trás de tudo isso, trago aqui nesse espaço algumas dicas para sobrevivermos a essa fase da história. Sim, vai passar. Mas precisamos estar cientes que nada é por acaso (isso é pauta para outro artigo). Abaixo algumas informações que considero importantes para entendermos o contexto e nos acalmarmos.
Dicas de como encarar esse momento
Denuncie mensagens de violência
Jamais, disse jamais, passe para frente mensagens, cards, postagens que engrossem o caldo do terrorismo. Quem está nesse movimento de atacar as escolas quer justamente que todos fiquem com medo, pavor. Pior que isso, tem gente que se vangloria com a desgraça que está provocando e ainda encoraja outros a fazer o mesmo. É uma das faces do fascismo nosso de cada dia, o que eu chamo de um tipo de neonazismo contemporâneo. Ao se deparar com mensagens, postagens apócrifas, denuncie. O Ministério da Justiça e Segurança Pública, em parceria com Safernet Brasil, criou um canal de denúncias para receber informações sobre possíveis ameaças e ataques contra as escolas. Clique aqui.
Não caia em ciladas de redes antissociais
Trabalho com comunicação muito antes de existirem essas redes antissociais e confesso que encaro como um ultraje ao nosso país, à humanidade atitudes como a do Twitter. A rede que mais fomenta intrigas entre esse e aquele (não faz bem a minha saúde, inclusive, transitar por aqueles tuites), depois que foi comprada pelo trilionário Ellon Musk, se negou a retirar as postagens de perfil com fotos de assassinos de crianças em atentados. A advogada da empresa afirmou que isso não violava os termos de uso da plataforma, tampouco seria considerado apologia ao crime. Veja isso aqui.
Por essas e por outras que defendo a regulamentação das redes sociais. O governo federal lançou uma portaria com novas diretrizes para tentar conter o disparo de tantas postagens estimulando crimes. Saiba mais aqui.
Alerte também seus amigos e familiares com relação aos perigos que canais, redes, plataformas possam estar provocando à mente de gente que não tem qualquer noção do que está vendo. Adolescentes, crianças, idosos e muita gente ainda acredita em coelhinho da Páscoa e Papai Noel… É claro que não dá para negar que o perigo ronda, mas em qualquer situação de risco, o principal é manter a calma, o discernimento para agir. Precisamos saber nos preservar. Será que ficar vendo notícias e situações que agravam nosso estado psicológico é uma boa alternativa?
Unidos pela Paz e Evolução
Um dos pontos cruciais desses tempos de redes antissociais é que tem gente que que coloca fogo no parquinho. Acende um palito de fósforo e coloca em uma linha de pólvora que vai sendo repassada. Isso dá mais visualização, gera o engajamento que o algoritmo gosta. Mandar coisas sem fonte, sem credibilidade e sem cabimento pelo WhatsApp também. Assistir e enviar notícias sensacionalistas é outro. Para tentar quebrar essa corrente, que só alimenta o pânico, procuro conhecer e divulgar iniciativas de quem faz o contrário. Não só apaga incêndios, como constrói outros parquinhos e possibilidades de pontes e conexões.
Vale conhecer o movimento Imagine2030. A ativista Fernanda Cabral criou o movimento em 2012 e vem repetindo um chamado para as pessoas imaginarem e agirem no agora, buscando abrir processos de transformação pessoal e coletiva. “O primeiro projeto foi o Imagina na Copa 2012-2014, depois Imagina Vc 2015-2017 (é possível acessar parte dos conteúdos produzidos no nosso canal do Youtube) e finalmente o Imagine2030 desde 2018!,”celebra a mineira, que mora em Piracaia.
“É uma iniciativa de educação cidadã que existe desde 2018 para ativar a imaginação e o protagonismo individual,” explica Fernanda. São utilizadas ferramentas pedagógicas e uma comunidade de aprendizagem horizontal amplifica os chamados para imaginar o futuro radicalmente diferente proposto pelos 17 ODS da ONU. A ideia é escolher agir agora onde se está.
Conforme a ativista, o movimento, independente, da sociedade civil, tem como objetivos:
1) valorizar as ações individuais transformadoras, soluções vivas e bons exemplos;
2) provocar reflexão individual e ação;
3) aproximar pautas globais (crise climática e agenda2030) das pessoas e territórios;
4) energizar quem está em ação, reforçando a crença em si mesma e a importância do seu micro fazer.
A comunidade de aprendizagem se conecta pelo WhatsApp. É por lá que chegam convites para participar de rodas de conversa online e grupos temáticos de aprendizado e ação. O grupo paz nas escolas é um desses grupos temáticos. Qualquer pessoa que entra na comunidade pode escolher qual grupo deseja se conectar.
Entrei no grupo Paz nas escolas e a diversidade de pessoas é incrível. Muitos assuntos e depoimentos de gente que está preocupada em construir um mundo melhor. Abaixo vão os links para quem quiser participar:
Para se conectar ao canal do Imagine2030, clique aqui.
Para se conectar à comunidade, esse é o link.
Também tem o Instagram @imagine2030
E o canal no YouTube onde tem o filme Imagine2030.
Live sobre Violência na Escola
E para encerrar, mais uma dica. Se quiser acompanhar essa pauta tão nova e desafiadora confira a live que acontecerá na FEUSP, na sexta, dia 14 de abril, às 18h. O tema é “Violências na escola”. Link aqui.
A live terá a participação dos professores Edisson Cuervo Montoya e Daniel Cara e tem o objetivo de debater o ambiente de violência física e simbólica nas escolas que, por vezes, interfere nas relações pedagógicas. Os organizadores entendem que é fundamental a sociedade debater a violência instaurada no seio da escolarização.
Foto da Capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil