Voluntariado, gentileza, doação, há formas de driblar a falta de esperança por dias melhores
Há uma linha tênue entre não se desesperar e praticar o verbo esperançar. Quem acompanha as notícias, sente os desafios civilizatórios de um planeta em ebulição. Nos últimos tempos a baixa tolerância nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp, tem exigido mais que inteligência emocional. Paciência. Contar além de 20. Como saber se equilibrar nessa corda bamba? É um exercício. Exige treinamento.
É desesperador ver para onde estamos caminhando. Temperaturas extremas – o ano mais quente da história está sendo 2023 – tempestades, micro explosões, ciclones na região Sul, estiagem severa no Norte, além é claro, guerras, de uns acusando os outros. E ainda corrupção, as cidades sendo tomadas por interesses de poucos em detrimento do bem estar e da qualidade de vida. Isso e muito mais nos levam a desacreditar em um futuro mais leve.
Só que a única salvação para enfrentarmos esses desafios é procurarmos enxergar a luz do fim do túnel. Tentar parar. Sossegar a mente. Viver o momento presente. Valorizar as pequenas alegrias. Saber que não viemos ao mundo a passeio e que precisamos ser protagonistas da nossa história. E o mais importante: quando nos damos conta de que nada faz tanto bem como fazer o bem, os instantes de felicidade são mais frequentes.
E nominar os sentimentos, em meio a tantos estímulos, é algo que requer repertório, autoconhecimento. No domingo, passado, dia em que participei da homenagem aos catadores das Unidades de Triagem de Porto Alegre, saí com um ar de felicidade, mas muito tocada com os relatos do pessoal. Sentimentos marmorizados, impregnados de indignação, desconfiança total no sistema em que estamos mergulhados, mas com uma pontinha de orgulho de estar fazendo o que minha consciência indica.
Os representantes da categoria revelaram que nunca viveram uma crise tão grande. Preço dos materiais muito baixo, desvalorização por parte da sociedade e da prefeitura e muitas dificuldades para conseguir operar. E aí, quem é voluntário e atua em iniciativas pra tentar melhorar nem que seja um pouquinho essa realidade, enfrenta incontáveis e, até surreais, obstáculos para fazer as coisas acontecerem.
Escrevo essas frases para reforçar o quanto é importante considerarmos o meio copo cheio e termos empatia (aliás, vale muito a leitura do artigo da Karen Garcia aqui na Sler) em meio a esse oceano turbulento. Quando olhamos para a vizinhança, percebemos o quanto o nosso fardo podia ser bem pior. Por isso, quero celebrar a felicidade que senti quando a Kellen, da Apoena Socioambiental, pediu para os amigos e familiares doarem dinheiro para a campanha de apoio às UTs em vez de ganhar presente de aniversário.
Também quero ressaltar o quanto o brilho do olhar do pessoal ao receber os troféus durante o evento da Virada Sustentável. Aliás, assine a Carta de Apoio aos Catadores e as Catadoras que foi apresentada no encontro, que contou com a presença de vários catadores e catadoras.
Estar envolvida com ações voluntárias, ajudar na gestão do condomínio, fazer alguma gentileza para a vizinha, promover algum tipo de agrado, pode trazer mais benefícios do que você imagina. Conhecer gente que se ocupa em melhorar o mundo e estar aberto para enxergar outros ângulos das situações são apenas alguns exemplos do quanto podemos amadurecer quando nos envolvemos em ações coletivas.
E, pra encerrar, divulgo uma iniciativa que li no site da Plurale. Dia 28 próximo é celebrado o dia de doar. A iniciativa merece ser conhecida, compartilhada e colocada em prática. A doação pode ser de vários jeitos: do seu tempo até os seus órgãos, seu dinheiro. A data foi inventada pelo mesmo povo que popularizou a Black Friday. Nos Estados Unidos, tem o nome de #GivingTuesday, que significa “terça-feira da doação”. É realizado na primeira terça-feira depois do Dia de Ação de Graças (o Thanksgiving Day).
E aí, já escolheu o que você vai doar?