Esses dias, ganhei dicas de como me comunicar melhor, e isso fez muito sentido para mim
Esses dias recebi um presente. Um feedback sobre minha maneira de atuar como jornalista que faz entrevistas em lives. A pessoa foi muito generosa. Não a conhecia. Tive contato com ela pela primeira vez em um evento que participei. Ela foi uma das palestrantes. Depois de ter um contato privado, onde conversamos sobre várias coisas, essa pessoa me falou de um jeito que cheguei a me emocionar.
As palavras me marcaram, já comprei o livro que ela me indicou. Para quem trabalha sozinha, não tem um local fixo de trocas profissionais e tem tido pouca vivência com amigos que dão a real, o toque me deixou muito grata. Tenho aprendido que só vale dar retorno em situações que valem a pena. Gastar saliva com gente que insiste que a terra não é redonda é perda de tempo e energia.
Ter uma devolutiva sobre a nossa atuação, seja lá como for, exige discernimento. Tanto de quem dá, quanto de quem recebe. Confesso que é um aprendizado. Nesse momento histórico regido pelas telas, por tantos discursos de ódio e opiniões sem embasamento, é crucial que saibamos identificar o que é bom para nós. E aí entram as narrativas que acreditamos. Sempre fico me perguntando: se a natureza é tão sábia, está dando seu recado, como é que tem gente que ainda não enxerga que vivemos em um momento de crise climática? Já pensou no feedback, nos indicadores da situação em que estamos metidos estão querendo comunicar?
A forma como se comunica talvez seja mais importante do que é dito. Já li isso em algum lugar muitos anos atrás. Só que isso para quem tem origens italianas, como eu, onde se expressa frequentemente de um jeito expansivo demais, em alto e bom som, é um exercício de civilidade. Mais: exige contenção do que pulsa dentro de mim. A empolgação pode se tornar um tiro no pé, ainda mais em uma sociedade embalada por representações, em grande parte, um recipiente bonito com conteúdo mentiroso.
Estou convencida de que o nosso caminho para melhorar o mundo em qualquer dimensão necessita de um cuidado maior com a comunicação. Às vezes, fico me perguntando: por que será que o Fulano nunca mais falou comigo? Será que eu disse algo que ele não gostou?
E aí entra o grau de compreensão, entendimento de cada um. “Enxergamos com os olhos da nossa experiência”, alguém já sentenciou. Pra mim que cresci numa família grande, com debates acalorados e que minutos depois estava tudo mais ou menos na santa paz, é um desafio tremendo perceber que boa parte dos grupos sociais não encaram situações semelhantes assim. Pior. O resultado muitas vezes é ignorar a pessoa simplesmente inviabilizando o que ela faz. Hoje se chama isso de cancelamento. Para mim, é uma das piores faces desse comportamento de simplesmente riscar a pessoa do mapa. Talvez essa seja uma das formas mais duras de se relacionar. O silêncio, a ausência, a saída abrupta de grupos de WhatsApp também comunicam.
Desde que me conheço por gente gostei de estar em grupos, de fazer coisas coletivas. Sou um ser social na essência. Joguei vôlei, handebol, participei de gincanas (ah, os maravilhosos tempos de Magistério no João Neves, em Cachoeira). Amo cantar em coral porque o som de cada um vibra e vira um só. Adoro participar de coletivos, organizações. Mas somente depois de eu ter passado pela pós na Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos que percebi o tanto de coisas que precisava me lapidar para conseguir me expressar e ser uma criatura melhor. A experiência foi tão marcante que depois da SBDG me lancei como síndica do meu condomínio. Queria ter experiências de fazer “ginástica emocional” no tratamento com os vizinhos.
Nesse desafio, onde acabei sendo síndica por cinco anos, os vizinhos fizeram campanha para eu voltar depois de um tempo. Tive sucesso. Consegui resolver várias coisas que geravam uma energia pesada para a convivência pacífica. E o saber se comunicar foi fundamental nesse processo. Sacar quando precisava calar. Quando devia agir sem alardear. Esse tipo de experiência não vai no Lattes, nem em um CV para uma vaga de emprego. Mas hoje avalio que qualquer candidato a uma vaga no Executivo devia ter sido síndico.
A ansiedade, a pressa, esse jeito imposto pelo nosso atual modus operandi, do tudo para ontem, requer autocontrole. Nem sempre estamos vigilantes para ler, captar o que as coisas que o “campo” estão comunicando. Por isso, fiquei muito agradecida pelo feedback que recebi da fonte que entrevistei.
Levei muitas surras emocionais, saí diversas vezes com a cara inchada das “aulas”, que na verdade eram um laboratório vivo de movimentação de energias entre os participantes na SBDG. E naquele momento, de 2014 a 2015, escrevi esse pequeno poema:
Feedback é presente.
Se não está aberto.
Melhor que fique ausente.
E você, gosta de dar e receber feedbacks?
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Foto da Capa: Freepik
Artigo publicado originalmente no Sler
