Como fazer um filho adolescente aguentar o tranco?

No meio da madrugada do tal rito de passagem (do terceirão), fui acordada por uma mãe preocupada com a função da turma. Alguns beberam demais e apagaram

Sou mãe de um adolescente. Desses que comemoraram o último primeiro dia do terceirão há poucos dias. Coisa que no meu tempo não existia. Pode ser que isso não tivesse chegado naquela época em Cachoeira, nos anos 80. O fato é que essa data, digamos, comemorativa hoje, me fez ter contato com outras realidades.

No meio da madrugada do tal rito de passagem, fui acordada por uma mãe preocupada com a função da turma. Alguns apagaram. Beberam demais, não estavam acostumados com a farra. Ela estava bem apavorada com a situação. Ligou para dizer que meu guri iria pra casa. Logo ligamos para ele. No caminho, ele e os amigos (que têm uma influência expressiva na tomada de decisões) resolveram ir para a orla. Ele e colegas saíram da festa porque foi encerrada pela mãe do amigo, que era responsável pelo local da função. O que para muitas mães seria um horror, pra nós, acabou sendo mais um dia de madrugada dele na orla.

Meu filho é muito parecido comigo em vários aspectos. Principalmente em coisas que eu sei que preciso melhorar em mim. Ele me ativa muitas memórias, situações que não são nada confortáveis de lidar. E, desabafo, diante de tantos contextos e crises, está bem difícil para essa gurizada saber onde quer chegar.

Fico me lembrando de quando tinha 17 anos. No interior, num tempo que já tínhamos muitas ameaças rondando. Pelo fato de eu ser a caçula, meus pais foram mais flexíveis, principalmente minha mãe, comigo. Ela sempre dizia que tinha sido criada numa redoma, super protegida e não queria isso para os filhos dela.

Confesso que me esforço para que o quase homem que saiu da minha barriga seja um cara que consiga se virar, ter independência diante dos fatos da vida. E isso requer tantas coisas. Boa parte das vezes, insisto para que ele aguente, supere as adversidades para chegar onde quer.

Não comento quase sobre os vários lados de ser mãe nesse espaço, pois sempre acho que há assuntos mais importantes para se abordar. Mas resolvi tratar disso porque confirmei uma hipótese com a veterinária Gleide Marsicano, proprietária da Toca dos Bichos, uma clínica que atende animais silvestres, o quanto é difícil da juventude ser resiliente no ambiente de trabalho.

Ela me contou que está complicado conseguir estagiários, jovens veterinários – aliás só vi lá mulheres atendendo – que aguentem o tranco do que a rotina exige. Lidar com animais silvestres, de vários tipos – de macacos a pássaros e tartarugas – exige muito mais do que simplesmente gostar de bichos.

Abordo esse assunto porque o filme Pobres Criaturas é um prato cheio para se refletir várias questões que atrapalham o desenvolvimento da nossa percepção em relação aos filhos. Principalmente nós, mulheres, precisamos sempre estar de acordo com regras impostas por um patriarca decrépito, que há tempo evidencia o quanto precisa ser superado. Isso não é novidade. Fazendo um paralelo com a obra, que segue uma narrativa fantástica, há várias cenas que rendem reflexões sobre o significado de preparar uma pessoa para encarar a realidade.

Por fim, recomendo que você veja o filme no cinema. Que também vale muito a pena. A telona nos aproxima da história. Os artistas estão excelentes. Não sou cinéfila, não guardo nomes de diretor etc. Mas lhe garanto: veja e pense no tipo de homem ou mulher que você está colocando no mundo. Porque depois que eles crescem, é bem difícil mudar o rumo da história.

 

Foto da Capa: Freepik


Texto originalmente publicado na SLER

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