Em busca de soluções para o caos

Técnicos de diversas áreas, universidades estão inconformados com as condutas do governo estadual que não dá ouvidos ao corpo de servidores que há anos está na lida na máquina pública

Mix de raiva, impotência, indignação. É algo difícil de nomear os matizes de sentimento que têm invadido meu coração. Sei que vai passar. Preciso ter fé, coragem etc. Mas não dá mais pra querer esconder: que desespero ter governantes incompetentes e negligentes!

Nessa quinta, 23 de maio, Porto Alegre colapsou. A chuvarada anunciada provocou estragos onde antes a água do Guaíba nem tinha chegado. Ouvir as explicações do prefeito Sebastião Melo ou de algum representante do DMAE não trazem qualquer alívio. Pelo contrário, evidencia a falta de articulação entre as distintas áreas da prefeitura.

Assistir o governador Leite então é algo que me provoca algo que nem sei como descrever. O cara desdobra, dá voltas, não responde e ainda tripudia que o entrevistado não sabe do que está perguntando. Essa foi a síntese do Roda Viva com o governador.

Enquanto o mundo desaba – tenho me transportado em diversos momentos para o filme Não Olhe pra Cima – diversos grupos de técnicos, acadêmicos, pesquisadores se manifestam fazendo textos, pareceres, apontando questões para chamar a atenção do que precisa ser feito.

Na Capital, a Associação dos Técnicos de Nível Superior do Município de Porto Alegre (Astec) apresentou uma nota técnica recomendando urgência na recriação de um órgão responsável pela manutenção das águas pluviais e formação de um comitê de reconstrução da Capital.  A gestão do Marchezan abriu a picada da destruição da gestão pública para a atual administração Melo/Ricardo Gomes pavimentar o caminho. E o resultado estamos sentindo na pele, no estômago, no coração.

O Pacto Alegre – que reúne tomadores de decisão e representantes da Aliança pela Inovação com notáveis das três maiores universidades gaúchas: PUCRS, UFRGS e Unisinos – também elaborou uma proposta de Estratégia de Resiliência e Inovação Social para a Emergência Climática de Porto Alegre. Entre seus objetivos estão a prevenção da migração forçada e melhorar a resiliência das comunidades afetadas.

No Estado, técnicos de diversas áreas, universidades que estão inconformados com as condutas do governo estadual que se diz a favor da Ciência, mas que não dá ouvidos ao corpo de servidores que há anos está na lida na máquina pública. Eles construíram uma proposta, intitulada Uma Agenda para a Reconstrução – Recomendações para o Planejamento sistêmico das regiões afetadas pelas enchentes no RS.

A Rede Sul de Restauração Ecológica também mandou ofício para a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (vale conferir a reportagem que fiz para a Agência Pública, com outras tentativas de aproximação do governo do Estado para a adoção de medidas) e para o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas se colocando à disposição mais uma vez para a articulação de iniciativas visando práticas de prevenção e mitigação da crise climática.

Esses são alguns dos documentos, textos com ideias para que os governantes deem atenção para pessoas e instituições preocupadas além dos quatro anos e da próxima eleição. Só que de tudo que li, senti falta de se valorizar o que já é estabelecido por lei. Por que não fortalecer e aproveitar o conhecimento dos comitês de gerenciamento de bacia hidrográfica (confira a matéria que fiz no Extra Classe)? Por que não acompanhar de perto o que as Câmaras Técnicas e os Conselhos de Meio Ambiente do município e do Estado estão tratando?

Teria mais perguntas, mas fica para a próxima. Vai essa por último: e como fazer com que esses que estão aí atravancando meu caminho? eles passarão, eu, passarinho.  Um respiro, para celebrar Mário Quintana. Vai passar.

Foto da Capa: Secom RS

Mais textos de Sílvia Marcuzzo: Leia Aqui.

Texto originalmente publicado na SLER

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