Dia da Amizade vem aí

Ter e ser amiga requer vários cuidados. As relações são energias vivas. É vital cultivar aquilo que o sistema capitalista não compra: a verdadeira amizade

No próximo dia 20 de julho, comemora-se o Dia Internacional da Amizade. Ou, simplesmente, o dia da amiga (vou feminilizar, tá?). Se existe algo que pode atenuar todos os tipos de desgraça, é poder contar com a amizade verdadeira. Em tempos de crise climática, então, é vital sabermos com quem podemos contar (especialmente se a água estiver batendo na nossa bunda!).

Só que ter e ser amiga requer vários cuidados. As relações são energias vivas. Precisam ser alimentadas, hidratadas. Há vários tipos de amizade que, quem está aberto, pode experimentar. Tem gente que talvez ainda não tenha sentido na pele o significado de ter feito vínculos que podem dar alertas ou, simplesmente, se distanciar.

Confesso, que tive e tenho amigas e amigos de incontáveis tipos. Pessoas que pensei que poderia contar e que simplesmente desapareceram, ou então aquelas que guardam na memória a intensidade do que foi tecido no passado.

Mas, como boa aquariana, eu amo minhas amigas. Procuro corresponder e alimentar o que flui entre aquelas que se dispõem a trocar.  Creio que é vital cultivar aquilo que o sistema capitalista não compra: a verdadeira amizade.

Só que às vezes achamos que as amigas devem alcançar o que precisamos. Porém, só pode dar, quem tem algo a oferecer. Nem sempre as pessoas estão preparadas, dispostas, ou conseguem compreender o que estamos necessitando. Manter relações duradouras exige um fluxo de trocas complexo, que compreende configurações de sutilezas. A vida dá muitas voltas, um dia estamos esbanjando vitalidade, outros, estamos catando forças para atender demandas, muitas vezes, indecifráveis.

Quando nos lançamos no mundo abertas a possibilidades, a nossa energia atrai seres que podem apontar aprendizados. Já vivi situações em que estava completamente sozinha, frágil e surgiram pessoas incríveis que me ajudaram. Quando viajei para a Europa, em 1996, fiquei doente. Algumas portas se fecharam. Daí fui acolhida pela família do Arno Rochol, na Alemanha, e depois pela Marta Maia, na Itália. São relações que mantenho até hoje e guardo com muita gratidão.

Tive o privilégio de ter uma vizinhança no interior que me fez entender desde cedo o significado da boa convivência. Que saudade do pão de casa da dona Nair, das novidades da Tia Béia e daquele campinho que tinha na frente da minha casa, onde a gurizada jogava bola e fazíamos altas festas de São João. Era uma galera que agitava a rua Riachuelo na década de 70.

Tem aquelas amizades da infância, da adolescência que a vida nos fez traçar destinos tão diferentes. Quando vou para Cachoeira, me nutro encontrando a Denise Albuquerque, que foi colega de primeiro grau no Roque Gonçalves e de time de vôlei na Sociedade Rio Branco. Boa parte das minhas relações na terra natal não estão mais lá.

Como fui fora de época na minha família, minhas irmãs são bem mais velhas que eu e meus pais também eram bem mais velhos, sempre recorri às amizades para aprender, a ver coisas de outros ângulos. Quando tinha 12 anos, fui num casamento de uma vizinha e conheci a Dedé. Até hoje lembro a data: 10 de janeiro. Por muito tempo, nós comemoramos essa data por ser o dia em que nos conhecemos. A Adriane mora em Pelotas, casou, ficamos muito tempo sem nos falar. Mas depois que ela viuvou, já fizemos várias coisas juntas. Claro que, com o passar dos anos, o game da vida vai apresentando up grades nas dificuldades. E é exatamente aí que entram aquelas pessoas que te conhecem, que sabem o quanto é importante a manutenção do invisível aos olhos, mas que aquece o coração.

Tenho aquelas amizades que passo anos sem ver, mas quando nos encontramos, já deciframos de cara como está o astral de quem dividimos tantas experiências. Daqueles que dividi viagens de T1, que pedi para me levarem remédio quando estava doente sem ninguém por perto. O Leandro Freitas é um desses amigos que tenho saudade de conviver. Ah, e tem o pessoal do Correio do Povo, que vivi tempos memoráveis em uma redação animada.

Há pessoas fora da curva, mulheres, que são simplesmente transformadoras de realidades. Algumas são tão ocupadas que, para conseguirmos nos encontrar, precisa ser marcada data com antecedência. Amigas de retiros ou imersões, né, Vera Damian?  Amiga multidisciplinar, da yoga à militância por um jornalismo mais consciente. A Katia Madruga é uma delas, que convivi em diferentes situações. Hoje ela é professora, adoro encontrá-la, trocar dicas, me energizar com sua sabedoria. Ela é uma das que vai ao retiro do qual a Vera é uma das organizadoras, assim como a Sandra Damian, outra amiga que vive me apresentando receitas, orientações de como fazer isso ou aquilo.

Há grupos de zap com amigas do POA Inquieta, onde as mensagens são esporádicas, mas com trocas interessantes. Um desses grupos é o das Phodásticas, com mulheres envolvidas em causas coletivas.  Aprendo assuntos tecnológicos com a Andreia Marin. Tenho orgulho do trabalho que a Dani Votto vem fazendo à frente do Instituto de Controle e Governança do Câncer. A Vânia vive me socorrendo e dando cobertura por ser vizinha de andar da minha tia. Aliás, amo minha vizinha de porta, a Graça Marchetti, que infelizmente, vai se mudar. Mas se for para ela ser feliz, o que mais posso querer?

Tem o grupo Las Chicas, aquelas de amizade ininterrupta desde o início da faculdade, do tempo em que eu era avulsa: a Dani Zatti, a Ana Luiza e a Silvinha Canarin. E as que tenho descoberto horrores com o apagamento do feminino. Obrigada, queridas: Karen, que sou eternamente grata por ter me acolhido durante a enchente com minha tia; Marília, Lila, uma estudiosa do quanto a mulher tem sido vítima do patriarcado, a Nádia, a Mariana, e tantas outras que ainda tenho que conhecer melhor.

E não posso esquecer daquelas amigas que estão longe, em São Paulo e Florianópolis, que moram no meu coração. O grupo das Paroquianas, das jornalistas Maria Zulmira, Rachel Añon, Maura Campanili, Gisele Neuls, Monica Paula, Maristela Crispim e Lilian Cunha, e da super Neidinha Suruí, no momento, está parado. Na verdade, todas são super ocupadas. A Miriam Falkenberg, com toda sua experiência e erudição, é uma pessoa que admiro e respeito desde criança.

Ah, e tem as Climáticas também, onde estou conhecendo melhor as amigas de grandes amigas.  Será que esqueci alguém… ai, já tô me arrependendo de ter colocado nomes… tem ainda a Virginia Müzzel, a Ana Paz, a Mercedes Bendati e muitas outras, que minha memória deixou escapar.

Quem tem amigas, tem tudo, alguém disse. E eu complemento: quem sabe o valor de uma amizade, compreende que nada vem de graça. É preciso reciprocidade. Cultivar e ter discernimento que, quando alguém torce por nós, quer nosso bem, nem sempre diz o que queremos ouvir. Se a necropolítica nos come “pelas beiradas”, como diz algum gaudério embrenhado nos pagos, na hora do apuro, do ‘pega-pra-capá’, a amizade verdadeira oferece a mão, o braço e o ombro, e o que mais for necessário.

 

Foto da Capa: Freepik                                           Mais textos de Sílvia MarcuzzoClique Aqui.

 

Texto originalmente publicado na SLER

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