Qual é o evento em que 70% da programação feita por mulheres, onde foram debatidos temas como arquitetura, afroempreendedorismo, habilidades do futuro, rodadas de negócios, sustentabilidade e, muita, muita troca de experiências em Porto Alegre? Foi o Mercado Inquieto da Economia Criativa, produzido pelo Instituto Soleil de Pesquisas (Inspe), que nasceu dentro do POA Inquieta, um movimento para tornar a Capital rio-grandense mais criativa, sustentável e inclusiva. A função agitou diversos espaços da Casa de Cultura Mário Quinta no final de semana de 23 e 24 de novembro.
Participei de diversas atividades e organizei/promovi duas. A de sábado, a roda de conversa sobre a situação dos resíduos foi bem marcante. Pois além do município ter um imenso gasto com o seu gerenciamento– depois da saúde e educação, os resíduos são o maior gasto do município — milhares de pessoas sobrevivem da venda dos recicláveis. No encontro, Cleiton Chiarel, do Inspe, (no centro, na foto ao lado) contou emocionado da situação de uma vila onde as pessoas vivem praticamente no meio do lixo.
Nesses encontros, a ideia é aproximar as pessoas de mundos muito diferentes. Nosso grupo tem visitado Centrais de Triagem e outros espaços para compreender melhor esse complexo contexto. Pra quem não sabe, a Capital manda seus resíduos para um aterro há mais de 100km de distância, em Minas do Leão. Uns 100 caminhões caçamba pegam a BR290 por dia.
A minha palestra no domingo, abordei o tema “Escolhas e engajamento para a construção da Sustentabilidade”. Mostrei um pouco do que venho fazendo como empreendedora do setor 2,5, (que fica entre o setor de serviços e o terceiro setor), que não visa somente o lucro, mas que se preocupa em gerar um impacto positivo onde atua.
Minha fala teve muito a ver com a proposta do Frederico Salmi, empreendedor socioecológico, da plataforma de rastreabilidade Selo Nu, que evidenciou o quanto o consumidor deve estar atento ao impacto que provoca no ato de escolha do que vai consumir. A roda de conversa puxada por ele, levou a vários questionamentos. Ele provocou os presentes a serem cidadãos perante ao contexto da emergência climática.
“Esta roda de conversa permitiu momentos saborosos com seres humanos abertos à reflexão política, social, ecológica e filosófica. Participar de um espaço tão rico de experiências nos acalenta o coração e a alma. Este tipo de troca aberta, inclusiva, me dá esperança, em relação às pessoas e ao mundo,” conclui Frederico.
E gostei muito de ter conhecido um pouco mais das ações da Escola Livre de Arquitetura. A conversa na qual participei evidenciou o quanto há possibilidades de se colocar em prática projetos com a execução de distintos segmentos da sociedade. A ELA trouxe a arquitetura como uma agregadora multidisciplinar. Pelo seu espaço, montado na Galeria Majestic no térreo da CCMQ, circulou uma grande diversidade de agentes interessados em debater possibilidades criativas para entrelaçar atividades econômicas com potencial transformador na cidade contemporânea.
“Nesta edição, muitas ideias foram desenvolvidas e muitas pessoas se conheceram. A questão que fica é: quantas ações realmente transformadoras vão dar continuidade a esses dois dias que transformaram a paisagem urbana e humana de parte do centro histórico de Porto Alegre?,” questiona Luciana Fonseca, arquiteta, cofundadora e diretora da ELA.
No Mercado Inquieto da Economia Criativa aconteceram mais de 60 atividades e 68 palestrantes, além de uma feira de rua, música, food trucks etc. Para os organizadores, o evento foi uma forma de dar espaço para os empreendedores criativos da cidade. Conforme o mapeamento de economia criativa, onde foram entrevistados mais de mil empreendimentos de 21 áreas, 53,5% são do sexo feminino.Saiba mais aqui.
Fiz uma oficina no Jardim Lutzenberger “O que a Natureza nos inspira?” durante o MIEC 2019, uma das 60 atividades do evento. Obrigada por esta matéria, ótimo ter esta dimensão do evento, que de tão grande, eu não tinha tido ainda.