Por melhores narrativas ambientais

Professores dão dicas de como aperfeiçoar a cobertura em tempos de policrise

Enquanto a pauta socioambiental vem ocupando espaços na mídia principalmente devido a notícias de inúmeros retrocessos, desmatamentos na Amazônia, intensificação das mudanças climáticas, na universidade há pesquisas que se debruçam sobre como melhorar a cobertura diante desse contexto. Desde que se identificou a necessidade de se aperfeiçoar o jornalismo ambiental, especialmente na década de 90, muita coisa mudou de lá pra cá.

A cada dia novos conceitos têm sido incorporados pela imprensa. Racismo ambiental é um deles. Esses foram alguns dos assuntos abordados pelos professores Ilza Girardi e Simão Farias, que trabalham com essa temática em universidades federais do Norte e do Sul do país, na 15ª live da segunda temporada do programa Nas Ondas da Transição. Os dois fazem parte da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental, da qual também faço parte, desde a sua criação.

O encontro, realizado no dia 25 de novembro, teve a participação da precursora do estudo e disseminação do jornalismo ambiental, Ilza Girardi, da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Ufrgs, e do professor Simão Farias, da Universidade Federal de Roraima. Ambos destacaram o quanto é fundamental nesse momento histórico que os profissionais de comunicação saibam captar os vários lados do contexto, valorizando a diversificação de fontes, na elaboração de suas narrativas.

Núcleo de Ecojornalismo

 

Ilza, atual coordenadora do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul , contou um pouco sobre a longa trajetória da articulação, com a realização de eventos, cursos, e grupos de pesquisa de jornalismo ambiental. Atualmente, há inclusive um observatório que se detém a uma análise mais aprofundada da cobertura da imprensa. A Ecoagência, fundada pelo NEJ, segue firme publicando especialmente conteúdos que não são dados pelos veículos da grande imprensa. Participei da fundação da Ecoagência, criada em 2003, cobrindo o Fórum Social Mundial.

Uma das grandes realizações do NEJ foi o II Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental. Confira, a homenagem que prestamos para o Augusto Carneiro naquela ocasião.

Saiba mais sobre o NEJ  na sua página no Facebook.

Policrise

Os dois professores acreditam que há muitas lacunas na cobertura jornalística. Para Simão, há falta de soluções. Também é preciso considerar o contexto da desinformação (fakenews) e do negacionismo. Ele considera um avanço o maior envolvimento da comunidade científica na COP26. Há muito mais pesquisadores engajados no esclarecimento dos impactos da crise climática. No entanto, ele enfatiza que no meio de tudo isso, há o negacionismo político, que pode precarizar ainda mais essas crises.

“É preciso ampliar esse panorama de crises e entender como elas se articulam. Não dá para fazer uma análise meramente informativa, é preciso interpretativa, investigativa, considerando fatores, consequências, lacunas e soluções. E tudo isso com novidades ruins do contexto atual, de desinformação e negacionismo”.

 

Para Simão, atualmente vivemos uma policrise e precisamos apontar soluções.

 

“É uma crise generalizada. Não temos como deixar de articular a crise ambiental à crise política, a crise socioeconômica. Pois além do desmatamento, das queimadas, que são históricas,  estamos tendo a volta da exploração do garimpo.” Aos seus orientandos sempre indica a contextualização do cenário de policrise. Simão afirma o quão necessário é abordar formas de “enfrentamento”. “Quais as causas que precisamos atacar para que os fatos não se repitam?”

Foto de Bruno Kelly, para Reuters, viralizou nas redes sociais. Garimpo ilegal no rio Madeira, Amazonas, em nov/2021.

O professor liderou o trabalho do Grupo de Pesquisa Mídia Conhecimento e Meio Ambiente: olhares da Amazônia, entre 2019 e 2021, que resultou no Manual de Cobertura Jornalística de Mudanças Climáticas em Roraima. A publicação conta com um glossário e definições sobre tipos de jornalismo.

Clique aqui para acessar o Manual e outras publicações do professor da UFRR.

Simão tem um blog pessoal, onde pode ser encontrada parte de sua produção, já também escreve contos, roteiros e livros de ficção.

Dicas da professora Ilza

Confira as bibliografias com a participação da professora, que podem ser baixadas gratuitamente.

Jornalismo Ambiental – teoria e prática.  Ilza Girardi;  Cláudia Herte de Moraes; Eloisa Beling Loose; Roberto Villar Belmonte (org.). Porto Alegre: Editora Metamorfose, 2018.

Minimanual para a cobertura jornalística das Mudanças ClimáticasMárcia Franz Amaral, Eloísa Beling Loose, Ilza Maria Tourinho Girardi, (organizadoras). – 1. ed. – Santa Maria:FACOS-UFSM, 2020.

Artigos

Caminhos e descaminhos do Jornalismo Ambiental  Ilza Maria Tourinho Girardi, Reges Schwaab, Carine Massierer, Eloisa Beling Loose. C&S – São Bernardo do Campo, jul./dez. 2012

Panorama da pesquisa em Jornalismo Ambiental no Brasil: o estado da arte nas dissertações e teses entre 1987 e 2010. UFRGS, Ilza Maria Tourinho Girardi, Ângela Camana, Eloisa Beling Loose. Intexto, Porto Alegre.

A professora também sugere leituras para se compreender melhor a situação na qual estamos inseridos.  Ela defende a ‘ética do cuidado”, uma lógica diferente da praticada pelo sistema que se detém em explorar a natureza, com foco apenas no lucro. Elogia o trabalho que vem sendo feito pela Eliane Brum, onde destaca o artigo A gente que não vive no Tapajós  e pelo André Trigueiro, que tem conseguido mais espaço para pautas ambientais na Globo News.

Teses

O JORNALISMO AMBIENTAL:Três perspectivas em cinco décadas de especialização no Brasil megadiverso do Roberto Villar Bellmonte, o criador do primeiro programa de rádio da imprensa mais lido do que ouvido, o Gaúcha Ecologia, na década de 90, atual professor da Uniritter.

JORNALISMO E MUDANÇAS CLIMÁTICAS DESDE O SUL: OS VÍNCULOS DO JORNALISMO NÃO HEGEMÔNICO COM A COLONIALIDADE da Eloísa B. Loose. Confira a entrevista que fizemos com ela aqui no site.

A CONTRIBUIÇÃO DO PROCESSO EDUCOMUNICATIVO AOS PRINCÍPIOS DO JORNALISMO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA DE REFLEXÃO EPISTEMOLÓGICA A PARTIR DE EXPERIÊNCIA COM ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO da Débora Gallas Steigleder.

O JORNALISMO DO CORREIO DO POVO E O DISCURSO DO DESMONTE DA POLÍTICA AMBIENTAL DO RIO GRANDE DO SUL da Eliege Fante.

 

Confira a live no YOUTube, clique aqui

Confira também o programa sobre conexões entre o jornalismo científico e o ambiental.

Veja ainda o texto sobre a live com a Meghie Rodrigues e a Sucena Resk.

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