Dinâmica delicada – cidades e floresta

Governos precisam se preparar para o potencial da bioeconomia na Amazônia

Para quem está interessado em entender como é possível promover o desenvolvimento mantendo a conservação do meio ambiente, em especial a conservação dos nossos biomas, não pode deixar de fora o contexto das áreas urbanas. Na quinta, dia 2 de dezembro, tive a oportunidade de mediar o webinar O Papel das Cidades na Bioeconomia, que foi transmitido no canal do YouTube da revista Página 22.

No encontro, estiveram presentes pesquisadores e especialistas que vem estudando como a dinâmica das cidades tem relação a essa forma de economia, especialmente na Amazônia, detentora da maior floresta tropical do mundo. Como esse bioma chama atenção por seus diversos atributos naturais, inclusive porque sua condição interfere diretamente no clima do mundo, há gente preocupada em como fomentar formas de desenvolvimento que mantenham os ambientes amazônicos prestando seus serviços ambientais.
Tatiana Schor, secretária executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas, há quase 20 anos se debruça sobre o tema como economista, geógrafa e professora. Ela ressaltou a necessidade das cidades, tanto grandes como pequenas, se prepararem para a expansão da bioeconomia. Precisam implantar redes de saneamento básico e sistemas de monitoramento da qualidade da água, por exemplo, com a instalação de laboratórios. Há um imenso potencial de mercados de produtos da sociobiodiversidade, cujos consumidores vão exigir um bom controle de qualidade.
Tatiana é a organizadora e uma das autoras de textos do livro Dinâmica Urbana na Amazônia Brasileira – As vilas e a urbanização no Amazonas, que foi lançado também no dia 2 de dezembro em Manaus. Em um de seus artigos da publicação, destaca que o tema tem várias lacunas. Nem todos os estados da região tem grupos de pesquisa sobre processos de urbanização nas universidades, as prefeituras carecem de recursos e boa parte do que é consumido vem de outros Estados.

“O tema de cidades e do urbano no bioma Amazônico nunca foi considerado como prioritário pelos grandes programas de pesquisa organizados para o bioma Amazônico. É fato de que até o presente os principais programas de pesquisa em meio ambiente do Ministério de Ciência e Tecnologia como por exemplo foram o LBA (Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), o GEOMA (Rede Temática de Modelagem Ambiental da Amazônia), o PPBIO (Programa de Pesquisa em Biodiversidade), e o PPG-7 (Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil) do Ministério do Meio Ambiente – não trataram da questão urbana, simplesmente ignoraram esta temática”, aponta Tatiana em artigo do livro.

Vania Thaumaturgo, presidente da Associação Polo Digital de Manaus chamou a atenção para a necessidade de se ter políticas públicas mais consistentes para alavancar a bioeconomia. Para Vania, é fundamental ampliar a conectividade e poder contar com profissionais mais capacitados para trabalhar no setor. Priorizar a melhoria da educação básica, especialmente, português e matemática, é um dos desafios apontados por Vania. Ela considera a realização de feiras digitais e a olimpíada de informática um bom caminho para promover esse segmento.

Já Thiago Uehara, pesquisador na Chatham House, de Londres, questionou: para quem é essa bioeconomia? Quem vai ganhar com o que for produzido?  O que será feito com os ganhos? Ele acompanha o desenvolvimento de várias partes do mundo e alerta: é preciso ter muito cuidado para que regiões não se transformem em apenas espaços de exportação sem se preocupar com a qualidade de vida, com a desigualdade e a equidade de quem produz o que será consumido lá fora. Uehara lembrou que em Singapura, por exemplo, há muita desigualdade social e há indicadores de sustentabilidade muito ruins.

Os pesquisadores reforçaram a importância da “escuta ativa” nos processos de pesquisa e gestão de transformação de cidades. É comum representantes de governos, pesquisadores acharem que o melhor para uma comunidade é avançar em uma direção, quando na verdade, as populações preferem outra coisa.

Manaus de Frente para a Floresta

 

Foto de Bruno Kelly, que estará no livro e na exposição do projeto Manaus de Frente para a Floresta.

O webinar O Papel das Cidades na Bioeconomia é uma iniciativa do projeto Manaus de Frente para a Floresta, coordenado pelo jornalista Sérgio Adeodato em parceria com a revista Página22. O projeto tem o apoio da Manauscult, Uma Concertação pela Amazônia, Instituto Arapyaú, Idesam, Fundação Amazônia Sustentável e Coca-Cola. Foi aprovado pelo edital Conexões Culturais, da Manauscult, da Prefeitura de Manaus.

A iniciativa, capitaneada pelo jornalista, prevê uma série de iniciativas, como livro impresso, exposição de fotos, oficinas de comunicação em comunidades de baixa renda de Manaus, além de lives temáticas, como essa que  facilitei. Meu trabalho consistiu em organizar o roteiro, propor a dinâmica de apresentação, fazer perguntas, contextualizar o que estava sendo abordado e promover a interação com o público.

Sérgio conta que a ideia do projeto surgiu porque tem muita gente que fala que Manaus se desenvolveu de costas para a floresta. Vale lembrar que a capital é uma grande ilha urbanizada no meio de um mar de verde. Isso é possível perceber principalmente quando se chega de avião à capital do Amazonas.

“Isso sempre me incomodou, porque tenho uma relação antiga com a cidade, por reportagens, produções jornalísticas, livros. Sempre tive a sensação, vendo do avião, de andar nos arredores, de uma grande metrópole no meio da floresta. Fiquei curioso para entender como as pessoas que moram na cidade olham para a floresta, o que Manaus tem de peculiar pelo fato de estar no meio da floresta, o que está acontecendo na maior metrópole da Amazônia, no momento em que o mundo todo está com os holofotes sobre a Amazônia, o que isso representa para quem mora lá”.

Clique abaixo para acessar o PDF do livro Dinâmica Urbana na Amazônia Brasileira – As vilas e a urbanização no Amazonas.

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