Um professor em extinção

Luís Baptista recebeu prêmio pelo conjunto de sua obra em defesa da conservação da natureza

Professor Batista recebeu a homenagem de Isabel Chiapetti, que trabalhou na Fepam na área que atuava com o bioma Mata Atlântica. Foto: ONG Curicaca

Existem pessoas que deixam marcas, legados, decisivos para a compreensão da nossa existência por gerações. Tive o privilégio de conhecer e conviver durante a minha trajetória profissional com algumas. Uma delas é o professor Luís Rios de Moura Baptista, que hoje está aposentado do Departamento de Botânica da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Ele recebeu o Prêmio Curicaca no evento “E os nossos biomas tchê?”, realizado na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul no último dia 1º de julho. A homenagem, promovida pela ONG Curicaca, foi em reconhecimento ao conjunto do trabalho do professor que tem dedicado sua vida à conservação do bioma Mata Atlântica. O Instituto Curicaca é uma das organizações mais atuantes do Estado no quesito conservação de ambientes naturais e criou essa premiação este ano, em alusão aos seus 25 anos de atividade.

O professor, já em 1972, percebendo o contexto para conservação da natureza, adquiriu áreas, sendo duas no Litoral Norte do RS, para que pudesse levar seus alunos a conhecerem ambientes com a biodiversidade intacta. Ele não só comprou, como ajudou a implementar o Parque Estadual de Itapeva, em Torres, que inclui uma de suas áreas.

Vista da RPPN do Professor, em Dom Pedro de Alcântara, com a Lagoa de Itapeva e o mar ao fundo Foto: ONG Curicaca

A outra área, localizada também dentro do domínio Mata Atlântica, é uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) em Dom Pedro de Alcântara. Embora a RPPN do Professor, como é chamada, não seja extensa, aproximadamente 10 hectares de área preservada, é um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica de terras baixas, que não alagam. Nesse ecossistema há ocorrências de espécies ameaçadas, tanto da fauna, quanto da flora. Está localizada em uma área próxima a outras Unidades de Conservação, formando um corredor ecológico.

Pessoas como o professor são espécimes em extinção. Como professor emérito da UFRGS, ministrou disciplinas de estudo do meio ambiente e conservação. Orientou dezenas de alunos de graduação e pós-graduação, na pesquisa de botânica há pelo menos três gerações. Como jornalista, ele me atendeu diversas vezes, respondendo dúvidas, corrigindo textos. Participei de algumas viagens de campo com o professor explicando a ocorrência de espécies, a sua relação com a altitude, o solo e tantas outras características.

Se hoje temos algumas Unidades de Conservação, nome técnico dado a parques e reservas, é porque existem pessoas como o professor Baptista. Ele também foi integrante da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) no século passado. Ele sempre que pode contribuiu com seus conhecimentos para o desenvolvimento de políticas públicas ambientais estaduais e nacionais. Participou da Comissão Verde, junto com a qual foi responsável no Rio Grande do Sul pela criação de muitas UCs. Também fez parte da criação da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, sendo membro contínuo no Comitê Estadual e, por diversas vezes, no Conselho Nacional. Dono de uma fala mansa e coerente, o professor Baptista é daqueles professores que deixa uma legião de fãs por onde passa.

Esse artigo foi publicado originalmente no sler.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima