O que podemos aprender com os cupins?

Esses bichinhos adoram ambientes pacatos e com pouca iluminação, amam casas na praia

Nos primeiros dias deste ano, tenho me envolvido no combate aos cupins. Tenho aprendido várias coisas com esses bichinhos que trazem tanto incômodo nas cidades, especialmente dentro de casa, mas que em ambientes naturais, como florestas e savanas, desempenham um papel ecológico superimportante.

Foram catalogadas 2.800 espécies de cupins no mundo. No Brasil, há umas 300 espécies, pelo que pesquisei. Mas as espécies causadoras de problemas, que se alimentam das madeiras pouco nobres ou não, foram devidamente tratadas, não sei se foram trazidas ou são nativas daqui.

Os cupins que invadem nossas casas, apartamentos, igrejas etc. adoram ambientes silenciosos, pouco iluminados e pacatos. Casas na praia, então, eles amam, pois passa muito tempo sem ninguém transitando. Ao mexer nas áreas carcomidas, indo com ferramentas nos furinhos e nas galerias feitas por eles, me deparei com fisionomias diferentes desse inseto.

Eles vivem em sociedades complexas. Assim como as abelhas, eles têm soldados, rainha, rei, operárias. Cada um desempenha uma função. Acho que todos nós precisamos saber encarar esse sistema organizado de sociedade. Procurar entender o que ela está querendo nos dizer com sua ocupação.

Já tive que trocar marcos e portas da minha casa devido a instalação de colônias. E perdi a conta de quantos móveis fui obrigada a me desfazer. O problema é quando eles saem em revoada para procriar. Vem cupim também da rua, entram por janelas, portas. São realmente muito perspicazes para encontrar um buraquinho para fazer uma nova colônia.

Um dos lados pouco comentados e que precisamos estudar, saber mais, é o efeito das mudanças climáticas, do calor extremo, na proliferação desses insetos. Já se sabe que com o aumento do calor e de chuvas aumenta a proliferação de mosquitos como o Aedes aegypti. Esse mosquito, que não é nativo do Brasil, é o responsável pela transmissão de dengue, zika e chikungunya, epidemias que já causaram mortes e muitos estragos por aqui.

Enquanto eu empregava força, persistência e determinação para tentar livrar estrados, cadeiras e um gaveteiro dos temíveis cupins, percebi que aquela atitude representava uma pequena revolução. Sim, pois nunca antes havia me empenhado para sair da minha zona de conforto, por isso eles tinham se espalhado tanto. Ao mesmo tempo que eu desaguava minha energia em tentar mudar aquela situação, pensava que não ia adiantar por muito tempo aquele empenho todo. Eles no final venceriam a batalha. Era só uma questão de tempo.

Os cupins são bioindicadores do nosso estado de ânimo para enfrentar aquilo que nos incomoda. Só que o mais cruel disso tudo é que aquelas bolinhas pequenas, farelinhos que saem pelos buraquinhos – as fezes deles – só começam a aparecer depois deles estarem por lá depois de uns três anos. Ou seja, mais uma vez, a prevenção é melhor do que a remediação.

Nesses tempos agitados, que não temos tempo para tanta coisa temos dado menos atenção ao que nos cerca, os cupins servem para nos mostrar outros ângulos das manifestações de vida. Cada vez mais que consigo observar os mecanismos de funcionamento da natureza, seja de colônias de insetos, de morcegos ou o comportamento de aves, mais me dou conta que precisamos parar. E como é difícil.

Há situações envolvendo o ambiente exigem que vivamos o momento presente. Estar aberto para aprender com os outros seres vivos. No final das contas, todas as espécies estão em busca de sua sobrevivência, querendo encontrar um lugar ideal para viver, ter comida e se reproduzir. Mas e nós, Homo sapiens?  Será que com tantos anos de civilização estamos sabendo ocupar espaços seguros e ideais para perpetuar nossa espécie?

 

Texto publicado originalmente na SLER

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