Os anos vão passando e precisamos nos dar por conta…
No último dia 4, fiz aniversário. E, na atual fase da minha vida, estou fazendo um balanço do que fiz e ainda quero fazer ao completar mais uma volta ao redor do sol. Quando me deparo com as felicitações de gente de várias fases da minha vida, percebo que já tenho uma certa quilometragem. “Tu já não cozinhas mais na primeira fervura”, diria algum vivente do interior para mim.
Em tempos de redes sociais, fazer aniversário significa receber muitos cumprimentos. Pelo menos pra mim, que já passei por várias fases e tive contato com gente de distintos cantos do planeta. E cada cumprimento, me vem um flash ou melhor, um flashback. E as parabenizações me fazem viajar no túnel do tempo. “Bah, a fulana dedicou um tempo a me desejar parabéns, e eu a conheci quando fiz estágio na FM Cultura nos anos 90. A outra, foi minha colega de magistério nos anos 80. E tanta gente que considero relevante na minha trajetória não se manifestou. O que move as pessoas a escreverem apenas Parabéns ou a fazer alguma frase mais elaborada, fico me indagando.
Adoro comemorar meu aniversário e esse ano, assim como os anteriores, não foi de grandes comemorações. A cada ano damos mais um passo em direção a nossa finitude. Pretendo fazer muita coisa antes de partir, mas o fato é que a cada ano a vibe de fazer aniversário tem sido diferente.
Cada um encara o completar mais um ciclo a sua maneira. Para mim, é um momento de celebração. Estar viva, com alguns probleminhas de saúde, mas acesa, atenta ao que acontece, já é motivo para festa. Quero fazer muita coisa ainda nessa existência.
Quando somos mais novas, parece que a falta de noção é uma aliada à coragem, à ação. Fiz muitas aventuras ao longo da minha vida porque me achava destemida. E tinha uma absoluta convicção de que nada de ruim iria me acontecer. Coleciono histórias de caronas na estrada, indo para Cachoeira e até para praias de Santa Catarina. Fiz um mochilão sozinha pela Europa nos tempos que um dólar era igual a um real.
Já hoje, fico pensando, colocando os prós, os contras, os impactos das decisões e deixo de agir, falar ou escrever inúmeras vezes porque avalio que as consequências podem trazer prejuízos, a curto e a longo prazo. Depois de ler o texto sobre o tempo e a necessidade de se viver o aqui e agora do Luiz Fernando aqui na Sler (leia aqui), refleti sobre algumas questões.
Minha maior saudade é do tempo que podia beber, comer qualquer coisa e não me sentia mal. Também sinto falta de conviver mais com amigos e com a música. Por vários anos, a música fez parte da minha vida. Já toquei piano e cantei em vários corais. Sinto saudade do tempo sem grades, sem neuras de ser assaltada.
Se hoje temos muito mais tecnologia do que pouco tempo atrás, por outro lado, as pessoas estão com cada vez menos tempo para desfrutar da companhia umas das outras. O fato é que devido ao avanço da medicina, do acesso a tanta informação, pode-se escolher (será?) como vamos cavar a nossa cova: com pazinha, colher ou com retroescavadeira. As opções são de acordo à forma como encaramos os desafios das curvas, subidas e descidas desde a maternidade até a cidade dos pés juntos.
E nessa trajetória, o processo, o caminho é que faz toda a diferença. É comum sabermos o que é melhor para nós, mesmo assim, não seguirmos o que o lado racional indica. Alinhar a mente, a razão à emoção é um desafio para nossa existência.
Acredito que o que importa mesmo é o que nos tornarmos. Sermos um pouco melhores do que já fomos. Pois se não levamos nada para o outro lado, pelo menos que deixemos boas lembranças àqueles que conviveram conosco. E cada aniversário serve para nos lembrar que o tempo está passando. Espero que “eu possa fazer um monte de gente feliz”, como cantou a maravilhosa Rita Lee na sua composição Saúde.