Os microplásticos estão dentro de nós e no material escolar

Os microplásticos estão nas listas de material escolar, nas fantasias de carnaval, nas embalagens de alimentos, nos pulmões, no cérebro, na corrente sanguínea e até mesmo nas geleiras da Antártica
9 de abril de 2025 para Especial Extra Classe

Os microplásticos estão dentro de nósFotos: Wilson Dias / Agência Brasil (esq) | Igor Sperotto (dir)

 

Cerca de 35,5 milhões de crianças em idade escolar (de até 12 anos), segundo o IBGE, retornaram às aulas nos meses de fevereiro e março em todo o país. Nos últimos anos, o Ministério do Turismo estimou que aproximadamente 49 milhões de pessoas pularam carnaval no Brasil. Tanto o retorno às aulas como a realização do Carnaval (ou dos carnavais), que já não se restringe aos quatro dias, mas se espalha pelos 12 meses do calendário das principais cidades brasileiras, aumentam exponencialmente a exposição humana aos microplásticos para além do que já se normalizou no cotidiano de todos os 207 milhões de brasileiros.

Brinquedos, glitter, lantejoulas, folhas de E.V.A. (etileno-vinil-acetato), adesivos (stickers), entre outros produtos descartáveis, fazem parte da lista de materiais de todo início de ano letivo de grande parte das escolas públicas, privadas e também de samba. Vale mencionar os blocos de carnaval de rua.

Se nos restringirmos especificamente às listas de material escolar, elas servem para atividades pedagógicas por algumas horas, mas podem trazer problemas para a natureza e para a saúde por séculos. E isso não acontece só com esses materiais. Até as roupas sintéticas que usamos geram microrresíduos de plásticos.

Os compostos de plástico estão por toda parte. São misturados, transformados e moldados para infinitas funcionalidades. No entanto, nos últimos anos, pesquisadores têm descoberto que nem todos eles são inofensivos. Cientistas têm encontrado microplásticos em várias partes do corpo humano, inclusive no cérebro, no coração e na placenta.

A reportagem do Extra Classe ouviu pesquisadores e instituições que estão preocupados com o impacto desses derivados de petróleo em distintos lugares, seja dentro de seres vivos, seja no ambiente mais limpo do planeta: a Antártica.

MICRO E NANO – Conforme definição do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), os microplásticos são pequenas partículas de plástico sólido e insolúveis em água, de cinco milímetros até um mícron. Já as partículas menores que um mícron são denominadas nanoplásticos.

CONSEQUÊNCIAS – Pesquisas apontam que nanoplásticos não são eliminados pelo sistema imunológico. Dependendo do plástico, há uma carga de substâncias nocivas, como aditivos, metais pesados, entre outros elementos cancerígenos.

Os microplásticos estão dentro de nós e no material escolar

Em um esforço para reduzir em 30% a poluição por microplásticos, com até 5 milímetros de diâmetro, países que compõem a União Europeia proibiram a venda de purpurina plástica solta e sua adição em alguns produtos. Uma opção mais sustentável é o “bio glitter”, feito de celulose, a partir de tecnologia alemã e aceito na União Europeia

Foto: Daniel Antônio Agência /FAPESP

Na terra, na água, no ar e na escola

Um estudo pioneiro liderado pela médica Thais Mauad (leia entrevista no final desta matéria), professora do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), detectou pela primeira vez micropartículas de plástico no pulmão humano. O estudo foi publicado em 2020. Depois disso, novas pesquisas indicaram que microplásticos circulavam pela corrente sanguínea. As pesquisas avançaram e já foram encontrados pedacinhos de plástico em todos os lugares do corpo humano onde houve investigação, como no coração, no cérebro, na placenta e no fígado.

Mesmo que o plástico traga praticidade à vida cada vez mais corrida das pessoas, a médica defende que plásticos de uso único deveriam ser abolidos, principalmente nas escolas.

É necessário fomentar o uso de materiais biodegradáveis e compostáveis. “Lantejoulas e glitter já são pequenos, logo vão se fragmentar e virar microplástico”, comenta a pesquisadora, salientando que esse tipo de material cai no chão e acabará contaminando o solo. “As crianças são seres em desenvolvimento, então a preocupação deveria ser maior ainda.”

Não se sabe exatamente o quanto se ingere ou se respira de microplásticos, pois tudo depende do ambiente onde se vive. Mas um estudo do World Wildlife Foundation (WWF) – Fundo Mundial da Natureza – estima que uma pessoa ingere, em média, até cinco gramas de plástico por semana. E a primeira fonte é a água, especialmente se for engarrafada. Além disso, frutos do mar, sal e cerveja contêm elevada taxa de microplásticos.

A plasticidade da sedução

A cada dia surgem novos produtos, brinquedos e brindes de plástico. Devido às suas características, sua facilidade de modelagem e preço, entre outras “vantagens”, o material é amplamente usado. Contudo, grande parte do que é produzido não pode ser reciclado.

A pesquisadora explica que a mistura com outras substâncias, como aditivos e outros tipos de plástico, impede que seja possível a reciclagem. Ainda, há a disputa de preço com a matéria virgem, muitas vezes mais barata para a indústria, o que inviabiliza a reciclagem. Por exemplo, o papel onde há adição de cola, como o post-it, não dá para ser reciclado.

Isso sem falar nos baixos índices do que se consegue reciclar. Em Porto Alegre, por exemplo, apenas 2,1% do resíduos secos da coleta seletiva são encaminhados para reciclagem, conforme o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, apresentado pela prefeitura em dezembro de 2023.

A infância plastificada

O Instituto Alana encomendou a pesquisa Infância Plastificada – o impacto da publicidade infantil de brinquedos plásticos na saúde de crianças e no ambiente. O estudo foi realizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Química Verde, Sustentabilidade e Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). As evidências trouxeram dados relevantes não só para o futuro das crianças, mas também para a humanidade.

O trabalho ressalta o quanto estímulos consumistas, através de campanhas publicitárias, ações de marketing e a divulgação de que seu uso é seguro, fazem com que crianças sejam expostas às substâncias tóxicas. Estima-se que 90% dos brinquedos de todo o mundo sejam feitos a partir de materiais plásticos; o PVC (policloreto de vinila) é considerado o principal deles. Para dar flexibilidade ao PVC, são utilizados os ftalatos, substâncias que têm sido reveladas pela literatura como tóxicas e potenciais causadoras de problemas hormonais e cânceres em crianças. O PC (policarbonato), outro material menos utilizado em brinquedos, pode conter tanto Bisfenol A (BPA) quanto seus substitutos Bisfenol S (BPS) e Bisfenol F (BPF), os quais também apresentaram em estudos problemas à saúde de crianças e adolescentes.

Na amostragem realizada com bonecas de PVC e látex, por exemplo, foram encontrados metais como cádmio, chumbo, cromo, zinco e alumínio, juntamente com substâncias orgânicas, como ftalatos – substâncias adicionadas ao plástico para dar flexibilidade ao material. Tais compostos podem originar diversos malefícios à saúde, além de serem mais agressivos a grupos mais vulneráveis, como crianças e gestantes. Podem causar também distúrbios de comportamento e aprendizagem, doenças que afetam o sistema nervoso e os rins, além da possibilidade de serem agentes cancerígenos.

Esse estudo estimou que entre 2018 e 2030 serão produzidos 1,38 milhão de toneladas de brinquedos de plástico no Brasil, equivalente a 198 mil caminhões de lixo enfileirados de São Paulo a Salvador. Outro agravante são as embalagens, que são descartadas imediatamente após a abertura do produto. Estudos afirmam que no Brasil o plástico é o resíduo não orgânico mais abundante em aterros, lixões e oceanos – representa 80% do que está acumulado nesses lugares.

O primeiro brinquedo de plástico que se tem notícia foi confeccionado no século 19 – uma boneca feita a partir de celuloide. Foi só depois da Segunda Guerra Mundial que a indústria do plástico ganhou musculatura. Com a redução do uso do vidro, um material que pode ser reaproveitado infinitas vezes, o plástico hoje é onipresente em todos os lugares, inclusive em topos de montanhas, onde sequer há presença humana.

O lobby da indústria

 

Os microplásticos estão dentro de nósFoto: Igor Sperotto

 

Diante desse contexto, a ONU Meio Ambiente lidera um processo de construção de um Tratado Global Contra a Poluição Plástica. Foram realizadas diversas reuniões, onde estiveram presentes representantes da sociedade civil brasileira e do governo. Entretanto, em 2024, a quinta sessão do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC-5) da ONU sobre o Tratado foi concluída sem um acordo. Apesar do posicionamento de uma maioria significativa por um tratado vinculante e forte em medidas efetivas, como a redução da produção de plásticos e a regulação das substâncias químicas, os governos não conseguiram alcançar um consenso. As decisões mais críticas ficaram para 2025 (INC-5.2).

O representante da Aliança Resíduo Zero Brasil (ARZB) Rafael Eudes conta que mais de 100 países apoiaram a meta pela redução da produção dos plásticos e que mais de 90 nações se manifestaram a favor de regular globalmente os químicos e produtos plásticos e que se contemple todo o ciclo de vida desses materiais. “Só que o acordo foi prejudicado e adiado pelos interesses dos países petroleiros e das empresas de combustíveis fósseis. Estiveram presentes 220 lobistas das indústrias de petróleo e petroquímica na quinta rodada de negociação na Coreia do Sul”, lamenta o ambientalista, que participou dos eventos de negociação. Conforme ele, isso é mais que toda a delegação de governos da América Latina e Caribe, composta por 165 delegados. Os lobistas têm o triplo de participantes da Coalizão de Cientistas e nove vezes mais que os representantes dos povos indígenas.

Tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei (PL) 2524/2022 , o qual visa implementar uma Economia Circular para o plástico e reduzir a oferta desse material. Por ano, o Brasil despeja mais de 325 milhões de quilos de plástico no mar, segundo o estudo “Um Oceano Livre de Plásticos”, da ONG Oceana. A campanha “Pare o Tsunami de Plástico” visa à promoção do diálogo com a sociedade e angariar apoio a esse Projeto de Lei.

Expedição pesquisa impacto dos plásticos na Antártica

Os microplásticos estão dentro de nós

Trabalho de perfuração de testemunhos de neve na costa da Antártica. Uma amostra de neve sai do interior cilindro de perfuração. Da esquerda para direita estão: Isaías Thoen, Francisco Aquino e Filipe Lindau, todos pesquisadores do CPC/Ufrgs

Foto: Anderson Astor e Marcelo Curia/Ufrgs

Todos os países participantes da Expedição Internacional de Circum-navegação Costeira Antártica (ICCE) – Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia – coletaram amostras de neve, do ar e do oceano para a análise do impacto da poluição por microplásticos. O ambiente antártico, por ser considerado “o mais limpo do planeta”, é um laboratório para verificação de vários aspectos sobre a interferência humana nos ciclos da natureza. O aumento da temperatura da atmosfera vem interferindo nas correntes de ar e do oceano, o que faria com que a dispersão desses materiais esteja se intensificando.

O pesquisador Filipe Gaudie Ley Lindau, do Centro Polar e Climático do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), explica que as amostras serão identificadas de acordo com a quantidade, o tipo e o formato desses resíduos, os quais são invisíveis a olho nu. Serão medidas em mícrons (um mícron corresponde a um milímetro dividido por mil partes). “São principalmente fragmentos de fibras de tecido sintético, de PET, entre outros materiais que se deslocam de diversos lugares e vão parar lá”, observa o engenheiro químico.

Durante a coleta em seis diferentes locais do continente gelado, os pesquisadores tiveram o cuidado para também detectar o quanto a ação estaria deixando rastros nos delicados ecossistemas antárticos.

“Colocamos um balde com cerca de 5 litros de água ultrapura próximo aos pontos de coleta”, explica o pesquisador. A medida visa saber se as roupas sintéticas em que usavam, apropriadas para baixíssimas temperaturas, poderiam estar soltando micropartículas de plástico também durante o momento da coleta. “As roupas são boas, impermeáveis, leves, mas podem soltar fibras, pois se decompõem com a radiação solar”, acrescenta Lindau, reforçando que esses componentes encontrados nesse recipiente serão subtraídos do que for identificado nas amostras.

Ele salienta, ainda, que a metodologia empregada procurou reduzir o uso de derivados de plásticos, pois esses materiais são muito comuns nos procedimentos da pesquisa. Luvas de látex e papel-alumínio foram alguns dos materiais usados para substituir os subprodutos petroquímicos.

Os pesquisadores pegaram cerca de 30 metros de neve para analisar nos laboratórios da Ufrgs. A meta é acompanhar a evolução da presença de microplásticos dos últimos cinco a 10 anos. Pedaços menores ainda, os nanoplásticos, que estão na escala de tamanho de um milésimo de micrômetro, não estão no foco dessa pesquisa, pois seriam necessários outros instrumentos para análise para chegar na escala de nano.

ENTREVISTA

“Estamos rodeados de plásticos em todos os ambientes em que vivemos”

Os microplásticos estão dentro de nós e no material escolar

Profa. Dra. Thais Mauad, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)

Foto: Reprodução de vídeo / CNPEM – Divulgação

A doutora em Patologia e professora-pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Thais Mauad é uma das especialistas mais respeitadas na comunidade científica mundial quando o assunto é microplásticos. Ela é Professora Associada do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A seguir, entrevista exclusiva com a pesquisadora.

Extra Classe – Esses estudos que a senhora está realizando já encontraram microplásticos em vários órgãos de humanos. Como eles vão parar ali? Pela respiração, pela ingestão?  Quais materiais são mais encontrados e que riscos eles apresentam?
Thaís Mauad – 
Estamos rodeados de plásticos em todos os ambientes em que vivemos. Seja na embalagem das nossas comidas, pelos móveis, pelas roupas, pelos aparelhos. Há plásticos principalmente nos ambientes fechados, indoor, quanto outdoor. O problema é que o plástico não se degrada. Em 500 anos, ele ainda estará rondando por aí. E a reciclabilidade, na verdade, é um mito. Como há muitos tipos de plástico, não é possível de ela ocorrer, como no caso de plásticos complexos (os que têm muitas misturas componentes). A reciclagem depende muito da cadeia no Brasil, se tem comprador, se não tem. Os índices de reciclagem são pífios: 1% de reciclagem de plástico no Brasil. Em São Paulo, é 3%. Acho que é o maior do país, mas, mesmo assim, são números pífios. No mundo, é 9%. Só que a indústria do plástico colocou na cabeça das pessoas é que se houvesse reciclagem, o problema estaria resolvido. Só que isso é uma grande mentira. Hoje, sabemos que os plásticos que são reciclados são até mais tóxicos. Pois se mistura plásticos que não se sabe a composição, se esquenta e gera uma coisa que você não sabe o que é. E os plásticos acabam caindo na natureza, por vários motivos: pelo manejo inadequado, como ele não é reciclado, ele vai acabar indo parar em um aterro, um lixão ou acabar sendo descartado na natureza. Daí ele vai se fragmentando e virando um microplástico. Esse microplástico vai parar na água, nos rios, nos corpos hídricos, no solo. Também fica suspenso no ar, porque é muito leve. Nos contaminamos comendo, ingerindo microplásticos pela comida que vem embrulhada em plástico. Na garrafinha quando tomamos água, quando colocamos algo de plástico para esquentar no micro-ondas. São vias onde o plástico penetra no nosso corpo.

 EC – E as roupas também soltam microplásticos…
Thaís – Sim, as roupas são um grande problema. A maioria das roupas hoje são sintéticas, são feitas de polímeros plásticos, que soltam muitas fibras. No próprio uso, vai soltando fibras. Quando você lava a roupa, é muita fibra que solta.

 EC – E o tratamento da água não consegue eliminar microplásticos?
Thais –
 Não, o tratamento da água não consegue eliminá-los, pois são muito pequenos. Não existem tratamentos no Brasil. Acho que em lugar nenhum do mundo conseguem tirar microplásticos.

EC – E a solução também não é comprar água engarrafada?
Thais – Não, porque a garrafa plástica está cheia de microplástico. Ela vai soltando microplástico. E, além disso, temos um problema tão grave quanto o microplástico que são os aditivos. São eles que fazem com que os plásticos tenham diferentes características, como maleabilidade, transparência, resistência ao calor, ao frio, são substâncias que estão ligadas a esses polímeros. A indústria usa mais de 15 mil tipos de aditivo. Sabemos que uns 1.500 deles têm potencial cancerígeno e atuam no sistema endocrinológico. E quando compramos um utensílio plástico, a indústria não nos diz o que tem dentro dele. No máximo, dizem o tipo de polímero, mas não o tipo de aditivo que tem dentro desse plástico.

EC – E qual seria a alternativa então, se estamos cercados de plástico? Existe alguma preocupação de tentar amenizar esse quadro?
Thais – Existe o Tratado Global do Plástico. É uma tentativa internacional de regulamentar a diminuição da produção de plásticos não essenciais, principalmente os plásticos de uso único, que não fazem o menor sentido existirem. Então, já foram feitos vários encontros, mas, infelizmente, os países petroleiros, como a Arábia Saudita, não querem diminuir a produção de petroquímicos. Com seus lobistas, conseguem frear ou atrapalhar as negociações. Não se chegou a um consenso por conta de ter países que não querem parar a produção de plástico. Pois o plástico é petróleo, custa muita energia, gera muito CO(gás carbônico) para ser produzido. No final, se ele for queimado, ele vai virar CO2 de novo.

EC – Existe algum tipo de filtro que segure a poluição por microplásticos?
Thais – O filtro comum, como o de barro, consegue segurar os plásticos maiores. Mas não consegue segurar os plásticos muito pequenos, que são os nanoplásticos.

EC – E o que os estudos têm demonstrado o que isso representa à saúde?
Thais – Há muitas evidências, estudos mostrando o quanto os aditivos têm impactado populações que trabalham direto com resíduos, como catadores em Centrais de Triagem. Já existem alguns estudos com essas populações. Têm muitos estudos em animais, em culturas celulares, mostrando que quando uma célula é exposta a uma partícula plástica, o tipo de reação que ela vai ter. Os estudos clínicos começarão a sair neste ano. Um estudo italiano grande de 2024 evidenciou: de 100 pacientes que tinham placa na artéria carótida, um terço tinha plástico nessa artéria. E esses pacientes tinham quatro vezes mais chance de ter um infarto do miocárdio, um acidente de vascular cerebral ou morrer nos próximos 30 meses. É o primeiro estudo que mostra essa associação nítida entre efeitos adversos à saúde devido a microplásticos.

EC – Há quanto tempo a senhora pesquisa essa área?
Thais – É recente, começamos a trabalhar com isso um pouco antes da pandemia. O primeiro artigo saiu no meio da pandemia, em 2020. A pesquisa começou em 2016, 2017. É uma coisa muito nova, coletar material e analisar. A análise ainda é muito demorada, porque tem poucos centros que fazem isso no Brasil e no mundo. O mundo está aprendendo a quantificar, empregar e comparar as técnicas que devem ser utilizadas.  Não temos ainda claros os padrões, pois as medidas ainda nem são uniformizadas. A pesquisa na natureza, nos ambientes e animais está bem mais avançada. Sabemos o quanto o macro e o microplástico fazem mal aos ecossistemas. A Ciência está avançando em responder essas questões, o que faz mal e o quanto faz mal? Eu imagino que, daqui a pouco, teremos um exame de sangue para ver a quantidade de microplástico no sangue. Saberemos o quanto estaremos intoxicados. Creio que é algo que vamos poder contar em breve.

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