Tive o privilégio de participar do último dia do FICOO 2017, o Festival Internacional de Cooperação, que aconteceu em Floripa, de 20 a 23 de abril, últim feriadão. Para quem não sabe, existe um movimento mundial entre as pessoas, especialmente as de cabeça jovem, que estão preocupadas com os rumos do lucro a qualquer preço. Elas propõem uma série de medidas práticas para se viver melhor, fortalecendo a união, o engajamento e o trabalho em grupos.
Entre essas iniciativas, que eu conheço está o Art of Hosting, do qual já participei de duas edições, uma na Serra Gaúcha, em Caxias do Sul, em 2014, e outra no Vale do Itajaí, em 2015. Há experiências em ecovilas, empresas, enfim, há muita gente querendo imprimir no mundo um jeito diferente de se relacionar com as pessoas, de uma forma mais participativa e respeitosa. Tem até indústria que horizontalizou a relação entre os funcionários, por exemplo, como é o caso da Mercur, de Santa Cruz do Sul.
No caso do FICOO, o evento reuniu centenas de pessoas de vários cantos do país para ouvir celebridades dessa nova onda, que prega a comunicação não violenta, o respeito ao meio ambiente e a práticas de pedagogia da cooperação. Se para os céticos, isso tudo pode ser utopia, para mim, que vivo em um Estado em que as pessoas tem medo da própria sombra, o encontro foi renovador. Carreguei minhas baterias para ter ânimo e enfrentar as dificuldades de rodeada de notícias trágicas e desanimadoras que a mídia dominante despeja todos os dias.
Segundo a definição oficial, o FICOO acontece a cada 18 meses. É inspirado pela necessidade de reunir as diversas redes e organizações dedicadas ao desenvolvimento humano sustentável, pacífico e colaborativo. Por meio de um conjunto diversificado de palestras, rodas de conversa, oficinas, painéis, feira de serviços e produtos, apresentações artístico-culturais, vivências e outras intervenções colaborativas, potencializa experiências e estimula a convivência e o trabalhar juntos para o bem comum.
Lá tive o prazer de sentir como que com entusiasmo e alegria podem ser abordados problemas complexos. “Não existimos sozinhos. Precisamos de encontros como esse para nos lembrar de que a cooperação é a verdadeira realidade e não uma alternativa”, diz a missionária do Zen Budismo Monja Coen durante a conferência de abertura do FICOO. Uma das metas traçadas pelo evento foi um desafio de auxiliar a região da foz do rio Doce a superar o desastre ambiental de Mariana, provocado pela Samarco o ano passado.
O encerramento do evento foi com a futurista Lala Deheinzelin, criadora do conceito de Fluxonomia — uma forma de abordar como encarar a transição para novas economias através da compreensão de quatro dimensões da sustentabilidade: cultural, ambiental, social e financeira. Lala explicou ao público atento que é necessário enxergar o mundo “com lentes 3D”, pois hoje com a tecnologia, especialmente da web, tudo se dá de forma exponencial. “No século XXI não dá pra fazer sozinho nada, é preciso usar ferramentas para fazer juntos,” sentencia.
Lala defende que apenas com uma visão de futuro desejável é possível mudar o mindset para melhorar o contexto onde se está inserido. Justamente o que o FICOO mostrou na prática. Ela apresentou vários cases onde o compartilhamento de infraestrutura, já é uma realidade, como a Peerdustry (http://peerdustry.com/). Para ela, a palavra de ordem é convergência. Mas para isso, é preciso superar “as crenças limitantes”.