Abertura de caminhos para o RS

Odia estava chuvoso, frio e o programa era uma roda de conversa. Confesso que repensei várias vezes se devia sair de casa naquele sábado à tarde. Tinha recém chegado de viagem de férias com a família. Estava cansada e cheia de coisas pra arrumar. Mas minha intuição me dizia que precisava ir. Afinal, seria uma oportunidade de conhecer um cara que sigo no Facebook e que posta comentários inspiradores. Era isso que conhecia de Max Nolan Shen, um revolucionário das relações de trabalho e que possibilita muita gente empreender naquilo que acredita.

Max Nolan Shen – confira a entrevista sobre sua virada profissional, clique aqui.

Max é sócio em diversas empresas, trabalha atualmente em 15 projetos, que envolvem 80 pessoas. Ele é um empreendedor diferente. Ele já pratica novas formas de economia, ajudando as pessoas e organizações a ganharem consciência das leis sistêmicas. Desenvolve mentoria, conteúdos, workshops, consultoria sobre colaboração, negócios/espiritualidade, empreendedorismo autoral, co-aprendizagem, liderança sistêmica e propósito.

Iniciador da consultoria Dervish, da We.Humans, do movimento MaturityNow, das comunidades de co-learning ‘the tribe’, da rede ativistas Coletivo Lua e da rede de healers Overflow. Realizou projetos para: Instituto Alana, Elos, Yunus Brasil, Natura, Nestlé, Disney, Ambev, Pepsico, Coty, Calvin Klein, Bradesco, Google, Motorola, Grupo Ultra, Braskem, entre outros. Como palestrante, marcou presença no Fórum do Amanhã, Festival Path, Hacktown, TEDxFloripa e Fashion Revolution Brasil.

O papo, puxado pela Schana Breyer, visava difundir em Porto Alegre outras formas de se movimentar a economia, de forma colaborativa, compartilhada, criativa e que ninguém saia perdendo. Schana é sócia do Max Nolan Shen, colega da Rede da Fluxonomia. No encontro, ela apresentou o Hub 528hz, uma rede de empresas focada na transformação organizacional, do qual é fundadora e apoiadora.

Conversa vai, conversa vem, o grupo de nove pessoas comentou sobre suas impressões e desabafando sobre o momento de “crise”, ou transição, onde tudo está mudando rápido nas relações de trabalho. E nesse cenário de modernidade líquida, preconizado por Bauman, onde o futuro será de quem está ciente de que é preciso se adaptar aos tempos de redes, de algoritmos e relacionamentos instantâneos, eu desabafei sobre a dificuldade de empreender no Rio Grande do Sul.

Imagem da figura do gaúcho, de Aldo Chiappe. Do http://guiadabombacha.blogspot.com/pesquisa de Isa Bertolucci

Mais gente concordou comigo. Alguns contaram histórias que exemplificavam o quão difícil é decolar projetos em solo gaúcho. Um integrante da roda contou que por aqui existe o comportamento do caranguejo, que dentro de um balde tenta sair, no entanto, quando está quase saindo, os outros o puxam pra trás. Eis que Max se vira pra mim e pergunta: quer constelar sobre essa dificuldade? Depois de algumas indagações, a pergunta a ser respondida pelo “campo” ficou: Como fazer a transformação cultural que os gaúchos precisam para se abrir para a inovação nas formas de trabalhar?

Max então perguntou quais seriam as principais questões que ocasionam esse comportamento. O grupo elencou os seguintes aspectos: a tradição/história — pois esse orgulho de coisas do passado poderia estar prejudicando o avanço em direção a inovação; a mudança cultural — encarada como uma ameaça para muitos, seria receio de perda de poder?; a escassez — o medo de não ter o suficiente para todos; a abundância — o contraponto de se ter tantos talentos e possibilidades, devido a tudo que já se construiu; o bloqueio — em não aceitar quem não comunga da mesma opinião e partir para o confronto em vez da resolução de conflitos; a exigência — o pessoal do RS prima pela excelência, sempre coloca defeitos em algo, ou seja, nada é suficientemente perfeito. E o gaúcho, protagonista do conflito que desejávamos compreender.

Max pediu que eu escrevesse em sete papeizinhos de tamanhos iguais cada uma das palavras/expressões. Depois disso, pediu que eu perguntasse a cada um dos integrantes da roda: aceita constelar comigo? Fiz isso olhado fixamente nos olhos de cada um e todos aceitaram. Os papeis foram distribuídos e todos guardaram sem olhar o que estariam representando. Logo após, ele pediu para que todos se posicionassem onde quisessem na sala, um espaço pequeno de aproximadamente 4X5m, com mobílias. A ordem era ficar onde o coração mandasse. Não era pra racionalizar, era para simplesmente ficar onde o corpo quisesse.

Cada um dos participantes se posicionou em diferentes lugares e de formas distintas. Vou relacionar cada um dos participantes a uma letra para ficar mais fácil de entender. Um ficou parado, ou melhor, atirado, estático na sua cadeira, olhando para o teto o que estava na posição A; outra ficou perto de uma luminária quase em frente à janela (B); próximos desses uma integrante ficou olhando para o chão parada (C ); outro ficou de frente ao espelho (D), de costas para a que ficou no centro da sala (E), outra atrás, em uma distância de mais ou menos um metro (F) e outra se isolou em um canto, de forma a ver as demais posições (G).

Até aí tudo bem, rolando tudo em silêncio, na boa. Até que Max indagou um por um como se sentiam. Todos se manifestaram expressando sensações que simplesmente não sabiam de onde vinham. As respostas denotavam incômodos, sensações estranhas e teve gente que passou mal, começou a chorar. Dois apenas se mostravam muito bem e confortáveis (D e G). Enquanto isso, eu, de fora, só observando, não conseguia parar de arrotar. Algo queria sair para fora. Não conseguia me controlar. Depois que cada um desabafou, inclusive em relação a posição escolhida, Max pediu para que todos trocassem de posição. Escolhendo outros pontos da sala onde se sentissem mais confortáveis.

Imagem que simboliza as relações entre as nossas raízes familiares, sem filtro de licença. Pesquisa de Isa Bertolucci.

A que estava próxima a luz em pé, com ares de soberba, ficou agachada, na mesma altura do abajour; quem estava sentado, parado, parecendo não se importar com a movimentação, ficou em pé ao lado direito da participante que chorou, passou mal. Do outro lado dela, foi a integrante que antes tinha se isolado no canto da sala. Aquele que tinha ficado em frente ao espelho, sentou exatamente no ponto onde outra integrante estava olhando no chão. E a que estava olhando para chão, foi para o canto da sala, ficando ao lado da que antes ocupava o centro da sala.

Eis que Max pergunta novamente como todos se sentiam. Alguns se manifestaram dizendo que estavam mais aliviados, outros, nem tanto. E eu continuava arrotando. Depois de todos se escutarem, Max disse para cada um ler o que dizia o papelzinho que havia sido guardado. E aí tudo se encaixou de tal forma, que todos ficaram boquiabertos.

INACREDITÁVEL!

mudança cultural, representada aqui pela letra F e que sentiu-se mal ao longo da dinâmica, chorando, ficou na mesma posição, porém ao lado direito dela ficou a exigência (A) e do outro lado o gaúcho (G), que antes tinha fica de canto só olhando de fora. O mais incrível foi que cada um se identificou com o papel que retirou. Quem retirou a escassez (E) ficou ao lado, colado com a abundância ©. E a que retirou a tradição/história (B) foi justamente quem escolheu ficar ao lado da luz. O bloqueio (D) que se olhava no espelho de costas, se sentou exatamente no ponto ao chão onde antes a abundância © estava com o olhar fixo e triste. Segundo Max, quando um ponto no chão chama a atenção de algum participante significa que algo precisa morrer ou terminar.

Aberto às interpretações, Max provocou que cada um entendesse o que fazia sentido naquela composição. Pra mim, tudo fez sentido e compreendi muitas coisas do contexto onde minha mente me coloca. Ciladas, auto-sabotagens, preconceitos. Depois da constelação, o gaúcho amparou e consolou a mudança cultural, que por sua vez, deu suporte à exigência. A história/tradição se ajoelhou e não se achou melhor que os outros integrantes. O bloqueio sossegou e encarou de frente todos os demais integrantes. E a abundância ficou abraçada com a escassez.

Imagem captada no local do encontro o Origami.co, um local que conta com café, quintal e super agradável para encontros como esse. Tsuru é considerado sagrado do Japão. Simboliza saúde, sorte, felicidade, longevidade e fortuna. Foto: Edson Matsuo

Já tinha constelado outras vezes, mas nunca com relação a questões culturais coletivas. Max contou que tem utilizado esse sistema, criado por Bert Hellinger, em empresas e organizações e o resultado tem sido muito positivo. Vale lembrar que até a Justiça brasileira já está usando essa dinâmica para resolução de conflitos. Nesta semana já surgiram duas possibilidades de atuar em projetos incríveis, ambos no Rio Grande do Sul. Estou botando fé, que o trabalho feito sábado ajudou a abrir caminhos.

Colaboraram: Aline Scherer, Edson Matsuo, Isadora Bertolucci e Schana Breyer.

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