A força da colaboração, quando a convergência gera potência

Convergência gera potência. Essa é uma das máximas que a Lala Deheinzelin, tanto prega e que tenho constatado na prática. E um dos exemplos mais emblemáticos foi a realização de um evento inusitado na sexta-feira, dia 17 de maio, em Porto Alegre. Como articuladora doPOA Inquieta, fui uma das organizadora da Festa-feira Inquieta, um encontro que misturou feira de alimentos orgânicos e produtos com pegada sustentável, flash de moda consciente, roda de conversa. Tudo isso montado em um prazo de exatamente 13 dias. Foi uma oportunidade de se promover a conexão entre pessoas e evidenciou o quão necessária é vivência de outras formas de fazer negócios e de refletir em relação às escolhas que fazemos a todo instante.

A ideia foi unir talentos e empreendimentos que estão preocupados em gerar produtos e serviços que façam a diferença na qualidade de vida das pessoas em Porto Alegre. E fizemos isso acontecer com quase nada de dinheiro. E os ganhos foram incontáveis. Só os expositores que pagaram 15 reais para o aluguel de mesas e cadeiras.

A colaboração é condição básica da construção cidadã. É ela que humaniza as nossas relações pessoais, sociais e de negócios nas cidades”, acrescenta César Paz, um dos criadores do POA Inquieta, movimento que tem provocado os moradores a repensarem suas ações utilizando a criatividade com sustentabilidade. Ele ficou impressionado com a mobilização que o movimento está alcançando em Porto Alegre, uma cidade que muita gente precisa superar o medo de andar na rua.

Manequins pra todos os gostos, vestindo marcas autorais de Porto Alegre, muitos estrearam na passarela naquele dia.

Mudança de mindset

Mas tudo isso foi possível devido a um processo de mudança de mindset de gente que está colocando a mão na massa para transformar a cidade, sem apoio do poder público. O que tínhamos: algumas pessoas engajadas e um espaço bem localizado no coração do centro histórico de Porto Alegre que há anos vem sendo usado como estacionamento. Mais ou menos um ano e meio atrás, um grupo de pequenos produtores, coordenado por uma das gestoras do complexo cultural Vila Flores, Samantha Wallig, realizam ali uma feira orgânica e de produtos coloniais, com o propósito de revitalização do espaço. Próximo dali também há uma horta comunitária, junto à escadaria da João Manoel. Atualmente, a feira é realizada duas vezes por semana. Então se aproveitou um dia que já acontecia feira para realização do evento.

Membros engajados do spin Sustentável, do qual sou uma das articuladoras: Moda Sustentável, Resíduos e Orgânicos, puderam expor seus serviços e produtos. Integrantes desses grupos foram os responsáveis pelo evento. Conversei com a Madi Muller, ativista e professora de moda sustentável e ela se encarregou de conversar com as marcas e agitar o flash de moda.

Durante o processo de construção da empreitada surgiram debates sobre como as pessoas “trabalhariam” sem receber dinheiro. Todos os manequins desfilaram de forma voluntária, inclusive participantes do POA Inquieta, como a Cleusa Soares, a Maryanne Gaspary (que colaborou ainda com o ecoglitter, feito por ela própria), o Felipe Guedes da Luz (que consegui convencer a participar como manequim dois dias antes) e eu (porque estávamos precisando de gente para encarar a “passarela”.

A trilha sonora foi montada pela minha amiga Paola Oliveira que não conhecia o POA Inquieta. As fotos (essas que ilustram) foram feitas gentilmente pelo fotógrafo Daniel Araújo, que participou da primeira reunião do POA Inquieta Moda Sustentável. O make-up ficou por conta da Larissa Fogaça, que pediu uma colaboração de 20 reais para cada uma que maquiava. OU seja, os aceites para participar na invenção vinham pela reputação que as pessoas que convidavam dispunham. Muitos não entendiam muito bem qual era a ideia. Topavam porque confiavam em quem estavam promovendo a função. Contar com pessoas chave foi o fundamental para o sucesso da empreitada.

O mais importante nesse trabalho foi a poderosa energia que se formou a partir do objetivo comum abraçado por todos, de fazer acontecer mesmo sem dinheiro, com mínimos recursos, e isso fomentou a união de todos, o pegar junto, sendo criativo e aproveitando os recursos disponíveis. Isso sim é sustentabilidade: é um apoiar o outro, pra todos crescerem juntos! Não há força mais poderosa do que o “nós. Eu posso sonhar, mas nós fazemos acontecer. Tenho certeza de que todos sentiram essa força. Cada um com seus saberes e expertises. Todos juntos de alguma forma fizeram algo muito maior do que se tivessem feito um desfile sozinhos, da sua marca”, arremata Madeleine Muller, integrante do spin Moda Sustentável, produtora de moda, pesquisadora e professora no Design de Moda da Espm-Sul. Ela é autora do livro Admirável Moda Sustentável: vestindo um mundo novo.

“O encontro que aconteceu no Galpão do Plátano foi uma celebração única! Um grupo de pessoas acreditou, deram-se as mãos e fizeram acontecer. Ali tivemos a expressão viva da mais pura inquietude. O estar junto, o fazer coletivo falou mais alto. Foi uma tarde onde o colaborativo, o coletivo se fizeram presentes. Um flash de moda incrível com marcas autorais e muita história, uma feira de produtos desenvolvidos com amor, suor e desejo e a tônica: a sustentabilidade. Foi muito bacana ver que ainda há espaço para expressões como essas em nossa cidade. Que bom ver Porto Alegre pulsando inquietamente e que bom estar junto com todo este grupo de pessoas incríveis! Viva Poa INquieta!”, declara Bia Job, empreendedora e uma das donas d´Aloja e da marca 2B.

Quem participou

Bichométrico, feito de restos de tecido.

O flash de moda contou com roupas da Tsuru, Um pra Um, 2B, RGLOOR, Colorê, Mudha, Shieldmaiden, acessórios SilvAna e Resto Zero. Os expositores foram ainda marcas como Resto Zero, Up, Colorê, e outras marcas criativas: a Jardícia (mini jardins feitos em potes reutilizados); a Ecoa (sacos, guardanapos e outras invenções de pano para promoção de uma rotina lixo zero); a Minhoca Urbana (realiza projetos de compostagem para empresas, condomínios e residências); a Maitreya (compostagem e direcionamento correto de resíduos orgânicos); a Bicho Métrico (utiliza como matéria-prima restos de tecido para confecção de bichinhos fofinhos); os vasos em cerâmica com micro mudas cultivadas por mim e os acessórios em cerâmica e crochê da SilvAna; os fogões solares do professor Elmo (feitos em papel e outros materiais de forma artesanal); a Likso (recicladora de plástico); a Vegan4all (comidinhas veganas inusitadas); a Pão da Pedra (integrais e sem glúten); e ainda pastas, kombuchas, pizzas artesanais e hidromel.

Acima só as estilistas. Abaixo algumas estilistas e suas criações, pelo clic de Daniel Araújo.

O próximo post será sobre os assuntos interessantíssimos que circularam na roda de conversa da Festa-feira Inquieta no Galpão do Plátano. A roda conectou o quanto as escolhas de cada um, seja na moda, no supermercado e no jeito de ser corroboram para a situação do ambiente em que vivemos.

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