POA INquieta: quando a colaboração gera engajamento

Festa-feira Inquieta, realizada no dia 17 de maio, no Galpão do Plátano, foi tão incrível que até hoje estamos assimilando as conexões e possibilidades que ela proporcionou. O evento promovido pelo coletivo POA INquieta Sustentável, do qual sou articuladora, custaria muitos mil reais, se fossemos computar tudo na ponta do lápis.
Com o exercício da colaboração, foram acessados recursos intangíveis, viabilizados por uma imensa rede de relacionamentos e gente com alta reputação. E a repercussão também nos fez compreender a necessidade de somarmos todos os gastos (incluindo a energia, trabalho braçal e intelectual envolvido). Hoje estamos mais acostumados a calcular o custo levando em conta apenas a moeda corrente do mundo capitalista e a que paga as contas: o dinheiro. Já o valor intangível do momento é algo que precisamos aprender a contabilizar, pois conseguimos mobilizar uma energia transformadora durante o processo de concretização da empreitada. E todos saíram super satisfeitos com o que se depararam naquele dia.

Não gastamos com divulgação, não foram realizados cartazes nem anúncios pagos. Apesar de termos feito uma assessoria de imprensa básica, nenhum veículo divulgou nossa atividade. O evento foi um piloto para termos um pouco mais de noção do nosso poder de fazer acontecer em 13 dias. E foi lindo. Muita união e empreendedorismo na veia, que foi possível graças ao engajamento de pessoas chave que convidaram estilistas, artesãs, profissionais de diversos segmentos para participar da empreitada.

Clique abaixo para conferir o clima da Festa-feira Inquieta:Poa Inquieta – Flash de moda e Festa-feiraInquieta – Porto Alegre InquietaMomentos captados na Festa-feira Inquieta, no dia 17 de maio, no Galpão do Plátano, quando foi realizado o flash de…poainquieta.com.br

Exercícios para confiarmos no campo, sermos autênticos, solidários, vivermos uma experiência sem tantas certezas. Um case que mereceria até ser estudado por tudo que gerou. Foi uma vivência da colaboração com criatividade. Muitos tinham dúvidas quanto ao resultado, mas resolvi não controlar tudo, distribui responsabilidades, sem tantas cobranças. Tenho aprendido muito quando me jogo nos “ringues” que o POA INquieta tem apresentado ao longo dos últimos meses.

Se tivéssemos pago todos os prestadores de serviço, com cachês para os manequins, e mais outras despesas, nosso evento não sairia por menos de 12 mil reais. Nas feiras tradicionais, o expositor paga para participar, umas 10 vezes mais que os 15 pilas, que desembolsou. “Só em ter o flash de moda com marcas locais participando, disponibilizando o que tinham a seu alcance, já foi uma grande coisa para o ecossistema. Algumas dessas marcas são fomentadoras da sustentabilidade,” declara Rochele Gloor, estilista e ativista social e uma das organizadoras do flash de moda.

A Minhoca Urbana é uma empresa que vende composteiras e promove o reaproveitamento do resíduo orgânico de residências e condomínios.

Toda a proposta foi disruptiva. Foram utilizados os recursos que o local oferecia, mas cadeiras e mesas foram alugadas, a criatividade rolou solta na improvisação. E depois do desfile, que foi realizado às 17h, devido a ausência de uma iluminação potente (dá pra ver bem isso no teaser do vídeo), os participantes circularam pela feira, que contou com expositores de produtos variados.

A energia que circulou em todo evento foi algo contagiante. Todos ali estavam engajados no propósito da Festa-feira Inquieta. Como traduz Karen Campos, do grupo de resíduos, que participou expondo seus produtos e que ajudou na produção do flash de moda. “Fiz boas conexões, reencontrei várias pessoas massíssimas e fiz minhas primeiras vendas em feira. Como foi um evento que começou numa sexta à tarde, que restringe um pouco a participação tanto de expositores quanto de público, que teve uma semana de divulgação, acho que foi ótimo”.

Roda de conversa: onde se pratica a escuta ativa e a comunicação não violenta

A conversa possibilitou que assuntos diferentes fossem costurados mostrando o quanto o impacto das ações do dia a dia interferem na saúde das pessoas e do planeta.

Por volta das 19h, com o local iluminado por velas, quem quis aprofundar o papo integrou uma roda de conversa. O papo, que foi mediado por mim, começou com a apresentação de todos seguida das falas do oceonógrafo João Pedro Demore, que salientou: “Não acreditar em aquecimento global hoje é igual a achar que a terra é plana”. Ele utilizou ainda vários exemplos para chamar a atenção da situação do oceano frente à poluição de diversas ordens, mas principalmente provocada por micro plástico. Essas partículas acabam nos mares devido ao desgaste de tecidos sintéticos que desprendem resíduos no processo de lavagem.

O fotógrafo Daniel Araújo captou o olhar atento de Irany Arteche.

Da mesma forma, Irany Arteche, uma entusiasta da comida orgânica e sustentável, comentou o quanto podemos nos alimentar com plantas que não damos o menor valor. Revelou vários aspectos de como a escolha por uma alimentação saudável hoje se trata de uma escolha política.

O bate-papo foi muito interessante, pois uniu as questões que permeiam o dia a dia de todos: comer e vestir-se, pensando no impacto que criamos com as nossas escolhas. Foi importante ouvir as diversas faces da complexidade que é falar sobre sustentabilidade. De onde vem o que comemos e vestimos? Como vem? Mais além, para onde vão e como vão? Falar sobre os caminhões que levam nosso lixo para um aterro fora da cidade, sobre as micropartículas de plástico que vão parar no oceano e já superam a quantidade de plâncton na água, o que tem a ver comigo? O que tem a ver com moda? Tudo! Foi mais um momento para abrir os ouvidos e evoluir conceitos”. Esta foi a impressão da Marina Giongo, pesquisadora da Ufrgs e professora de moda da Feevale.

Paulo Renato Menezes, funcionário público, que tem participado das atividades promovidas pelo POA INquieta Sustentável revela: “Vivemos uma tarde-noite muito rica. Cheguei já ao fim do desfile da moda sustentável, mas pude ainda apreciar o belo vestuário exposto. A degustação de alimentação saudável, a apreciação das mais variadas produções personalizadas, o convívio com velhos e novos amigos se completou com uma roda de conversas onde povo de diversas idades compartilhou saberes e experiências. Ouvimos relatos saborosas, vivências autênticas da história de lutas pela sustentabilidade em nossa cidade. Sinto-me também um pioneiro, por ter ajudado a fundar a Feira dos Agricultores Ecologistas do Bom Fim, a Feira da Cooperativa Coolmeia de 30 anos atrás. Irany nos ilustrou com seu vasto conhecimentos sobre as PANCs, Plantas Alimentícias Não-Convencionais, surpreendendo muitos de nós ao descobrir em cada fresta de calçada de nossas ruas ricos alimentos desperdiçados, enquanto há gente com fome… A inquietude em querer fazer mais, continuar nossa linda trajetória, ajudar a construir Porto Alegre, pulsava em cada um de nós. Contatos feitos, projetos engatilhados, mais um pedaço de nossa rede foi tecido. Longa vida ao POA Inquieta!

Eu, João Wallig, do Galpão do PLátano e Bruno, da MInhoca Urbana na roda de conversa.

A bióloga Simone Azambuja, que integra a Associação Gaúcha de Preservação ao Ambiente Natural (Agapan), também saiu satisfeita. “Foi ótimo ter participado da roda de conversa. As pessoas se apresentaram , falaram de suas experiências e conversamos temas muito interessantes como a questão dos plásticos e microplásticos, das PANCs, moda, limpeza residencial feita a partir de produtos sustentáveis e da criação de políticas e ações que pudessem embasar as idéias que foram trazidas. A troca de informações foi muito enriquecedora”.

As próximas rodas de conversa do POA INquieta Sustentável acontecerão na Semana do Meio Ambiente, de 3 a 7 de junho, uma programação conjunta com a casa colaborativa Simplify, Net Impact, Minha Porto Alegre e ONG Todavida. Confira a programação aqui.

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