Moradores de vários bairros da Capital participam de encontro promovido pelo POA Inquieta
“Foi um encontro maravilhoso, onde nós conseguimos nos enxergar, conseguimos pensar e organizar realmente a cidadania. A cidade é de todos nós, mas a cidade tem que nos ouvir, nos escutar. E o POA Inquieta nesse momento muito interessante traz as comunidades, traz as lideranças para fazer esse diálogo fraterno, olhando para todos os lados, para as necessidades, puxando a galera para conversar sobre a educação para a cidadania”, resume Beatriz Gonçalves Pereira, também conhecida como Bia das Ilhas. O evento foi durante toda a manhã de sábado, dia 30 de abril e encerrou com um almoço no Nau Live Space, que gentilmente ofereceu o local para a atividade em Porto Alegre.
O encontro preparatório para organização do I Congresso Popular de Educação para Cidadania foi uma iniciativa do POA Inquieta e do coletivo Ponta. Contou com a participação de 50 pessoas, de várias regiões da cidade, dos seis meses aos 78 anos. “O congresso vai dar certo porque não é movido por fatos corriqueiros, é movido pela emoção, pelo sentimento, e quando é assim, mexe com o povo, vai valer a pena porque é de verdade”, declara Morgana Alves, que disse ser a primeira trans quilombola do Brasil, moradora do quilombo Santa Luzia, no Jardim Cascata.
Há semanas um grupo do POA Inquieta vinha se preparando para o evento, que foi pensado para ser realizado o ano passado, mas que por vários motivos, não foi efetivado. A ideia é promover várias rodas de conversa com pessoas que representem os distintos perfis de moradores de Porto Alegre para realizar o congresso. O próximo encontro será no dia 28 de maio, em local a ser definido.
Encontro maravilhoso e emocionante
Todos saíram do evento satisfeitos. “Foi maravilhoso,” vários afirmaram. Eu reitero. Nesta postagem vou explicar o porquê. Minha intenção é também pavimentar caminhos para enxergarmos luz no fim do túnel. Estamos vivendo um contexto histórico no qual as pessoas precisam se dar por conta do poder que têm nas mãos e na cabeça. Mais do que um momento para gente de vários cantos se reconhecer, ficou nítido que temos muito mais coisas em comum do que diferenças. O encontro evidenciou a garra e a coragem de pessoas que conseguiram transformar suas vidas, porque acreditam que o mundo pode ser melhor quando se exercita a cidadania. Muita gente se emocionou, vários escorreram lágrimas. Quem viveu a experiência saiu renovado.
O evento começou com uma brincadeira para que todos fixassem o nome dos participantes. Uma grande roda com uma dinâmica totalmente horizontal, proporcionou que todos estivessem na mesma posição. César Paz, articulador do POA Inquieta, deixou claro no começo que o coletivo é formado por pessoas, sem CNPJ, cujo objetivo é transformar a cidade, para deixá-la mais inclusiva, criativa, sustentável e diversa. O coletivo tem diversos grupos, também chamados de spins com vários temas.
Depois da grande roda, o pessoal foi dividido em sete grupos. Em um word cafe, os grupos debateram primeiro o que é cidadania e depois como educar para a cidadania.
Fiquei de apoio, transitando entre as mesas, acompanhando algumas falas. Temos muito a aprender com quem é de fora das nossas bolhas. E isso dá pra compreender bem quando o inquieto Cristiano Barcellos (a saber: possivelmente o primeiro diretor negro que integra atualmente a diretoria da Associação Comercial de Porto Alegre devido a aproximação pelo POA Inquieta de outros membros da instituição) comentou que o movimento de “BLs”, como chamam “brancos legais”, tenta atrair pessoas com outras visões de mundo. Isso porque, como articuladora do POA Inquieta, sei que um dos nossos maiores desafios é justamente aproximar realidades com respeito e troca de experiências.
O que é cidadania?
Surgiram várias definições para cidadania. Compartilho a do grupo 3: “participação ativa e coletiva com negociação, interação e inclusão onde a união e o respeito gerem decisões compartilhadas que transbordem a percepção da coletividade nas diversas esferas sociais e espaços de poder da cidade.”
O mesmo grupo escreveu que a educação para cidadania seria: “fomentar, por meio da educação informal (família, comunidade…), formal (escola) e não formal (organizações comunitárias, educação em saúde) reflexão coletiva (virtual e presencial) que articule propostas de melhoria para a qualidade de vida na cidade a partir dos anseios e necessidades da população”.
Conheci o POA Inquieta em 2018 e há muitos grupos, super heterogêneo. Para mim, essa iniciativa que chegou ao grupo pelo Gabriel Goldmeier, foi uma das mais tocantes que já vivi pelo POA Inquieta. Reuniu em um mesmo diálogo gente de várias realidades: negros de várias partes da cidade, representantes do movimento tradicionalista, indígena, quilombola, assentamentos, cooperativas de unidade de triagem de resíduos, moradores da Bom Jesus, do Morro da Polícia, do Santa Teresa, da Cascata, da Cavalhada, das Ilhas, do Rio Branco, do Jardim Europa, do Menino Deus, do Jardim Botânico e de tantos outros bairros.
A intenção é que envolva cada vez mais gente, para que esse debate sobre a educação para a cidadania seja compreendido cada vez mais para poder ser praticado. Iniciativa mais que necessária, urgente, em ano eleitoral. Vale lembrar que o coletivo não é ligado a nenhum partido político. E todo o evento foi custeado pelos próprios participantes. Alguns viabilizaram o transporte e o almoço dos convidados.
Fotos créditos: Fábio Goulart e Silvia Marcuzzo
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Excelente matéria, passou bem o ‘clima’ do evento e uma pontinha de arrependimento de quem podia ir e não foi. Mas esse recém o foi o primeiro encontro de uma série, ainda dá tempo para embarcar nesse trem! Vem com a gente?
obrigada, Paulo Renato! Sempre bom receber um feed back!
Este encontro ficará guardado no meu coração! Foi como se estivéssemos sincronizando os corações para a partir dali nos conectarmos e pensarmos a educação para cidadania através do afeto, da escuta, da fala, dos abraços e da vontade de transformar nossa Porto Alegre na cidade que desejamos!!