Comunicação e sustentabilidade se retroalimentam

Diferentes aspectos para engajar e divulgar com responsabilidade dependem da forma como se encara o impacto das escolhas

A comunicação e a sustentabilidade se retroalimentam. Uma depende da outra. E aprendi que há lados distintos da sustentabilidade. Confira um texto que fiz sobre esse assunto para ajudar você a entender ainda mais esse conteúdo. Clique aqui.

A seguir, um resumo do que rolou no encontro da Comunidade Caleidoscópio no dia 16 de agosto de 2022.  O conteúdo foi preparado pensando no setor hoteleiro. Conforme Daisy Klein, uma das idealizadoras da iniciativa, a Comunidade Caleidoscópio é um espaço para pessoas que buscam novos modelos de negócios, mais colaborativos. A comunidade integra a plataforma, de mesmo nome, que reúne outras possibilidades de aprendizado e de contato com pessoas de vários cantos do Brasil. Faz parte da comunidade gente que deseja colocar um projeto no mundo, estruturar seu negócio, melhorar sua experiência como empreendedor. A ideia é ser um campo onde se estimula relações de confiança para o aprendizado contínuo, com compartilhamento de conhecimentos, de boas práticas, principalmente dentro dos temas autodesenvolvimento, empreendedorismo e sustentabilidade.

Aprendi com a Fluxonomia como podemos valorizar os nossos recursos intangíveis, como redes, relações, contatos, conexões. Assim como essa comunidade, participo de outros grupos virtuais fomentados por amigos e conhecidos da Flux.

Hospedagem mais responsável

Vejam só essa notícia: o Booking lançou um selo para viagem sustentável para que o setor de hospedagem se torne mais responsável. Ou seja, não é novidade que há cada vez mais demanda por hospedagens mais sustentáveis. E a demanda por locais junto à natureza exuberante e insólita também é um atrativo procurado por pessoas de alto poder aquisitivo.

Confira nesse artigo do Alexandre Garrido, os preceitos de um sistema de gestão de meios de hospedagem que leva em conta os objetivos do desenvolvimento sustentável e também do turismo mais sustentável.

Cada um entende conforme sua experiência

Mas antes de seguir, precisamos partir de um denominador comum: todos estão cientes que o conceito de sustentabilidade também abarca as relações entre as pessoas? E eu encaro a sustentabilidade como um aspecto importante para os relacionamentos, saber comunicar com cada parte do processo é essencial, no meu entendimento é fundamental.

E outra: qual é o nível de entendimento do quanto é urgente ou relevante se incorporar medidas que promovam a sustentabilidade? Cada lugar do planeta pode ter uma leitura diferente desse aspecto. Mas vamos combinar que em quase todos os cantos do mundo já são afetados pelas mudanças climáticas.

Portanto é necessário saber ler o campo, lançar mão da sensibilidade para saber se as pessoas compreendem aquilo que desejamos comunicar. Porque cada um entende as coisas com os olhos, o coração da sua experiência.

 

Quando Fulano fala com Beltrano
Fulano diz X, o Beltrano pode entender Y
quando na verdade, a mensagem é Z

Quem já presenciou isso?

 

É muito importante ter uma mensagem clara que não deixe dúvidas. E quanto maior o repertório, o conhecimento da pessoa que recebe a informação, mais observações sobre a forma, o conteúdo que foi comunicado são considerados.

No meu caso, quando vejo um anúncio, a decoração, o que o hotel oferece, já identifico os valores do estabelecimento. Talvez porque já tenha sido repórter de um guia de bares e restaurantes na década de 90 ou então por ter frequentado muitos hotéis na vida, logo saco se o lugar tem forte incidência feminina ou masculina. Se valoriza a arte, os aspectos endógenos da região.

A Comunicação, grande parte das vezes, é o gargalo do setor hoteleiro porque:

– nem sempre atrai o público certo. Muitas vezes os anúncios chamam públicos e situações que não são os que o hotel gostaria.

– precisa engajar os colaboradores para que os hóspedes se sintam bem recebido. Os funcionários que são bem tratados tratam melhor quem chega.

– através de ações de comunicação é possível potencializar o que vem sendo feito pelo estabelecimento. De nada adianta inovar, investir recursos e energia e não for divulgado para os públicos prioritários que precisam saber o significado do que foi feito. Além disso, muitos empreendimentos já estão no caminho para diminuir seus impactos negativos e é relevante isso ser divulgado.

Porém há muitas sutilezas nesse processo. E TUDO envolve COMUNICAÇÃO! Pois TUDO COMUNICA!

Comunicação e Sustentabilidade

Quem está de vários lados do balcão, leia-se gestores, proprietários de hotéis, agências de turismo e até mesmo interessados no assunto, deve estar aberto para entender sutilezas na relação entre sustentabilidade e comunicação que precisam ser esclarecidas. Como estou nas trilhas desse assunto há quase 30 anos, quando quase ninguém se preocupava com isso, afirmo que tudo começa pela visão de comunicação e sustentabilidade.

Divido esse tema em três esferas

Comunicação para sustentabilidade

Comunicação como sustentabilidade

Comunicação da sustentabilidade

 

Comunicação PARA Sustentabilidade

O que significa em um empreendimento, em um hotel a comunicação para sustentabilidade?

Primeiríssimo passo: há vontade, desejo dos tomadores de decisão, dos donos do estabelecimento em ser mais sustentável? Para que um empreendimento, um projeto aconteça ele precisa sair de uma ideia, de um futuro desejável. Onde queremos chegar? Como seria o local perfeito?

Para evoluir, crescer, qualquer estabelecimento requer investimento de ENERGIA, recursos, muita conversa com diferentes atores, desde o empreiteiro que vai erguer uma escada com o mínimo de desperdício até o hóspede que pode evitar de lavar todos os dias a sua toalha.

Isso porque antes de qualquer coisa, as pessoas precisam compreender o significado de suas escolhas no mundo. O que comunica para o mundo fazer uma construção com materiais mais amigáveis ao ambiente? usar a mão de obra local?

E aí, quanto maior a noção do contexto onde estamos inseridos, o que é abundante e o que é escasso, melhor é para a tomada de decisão.

Por exemplo, se pegarmos a matriz SWOT (em inglês e FOFA, em português).
Quais são nossas Forças Fraquezas, Oportunidades e Ameaças… aí dá para ter uma ideia da necessidade de ser mais sustentável, pois hoje vivemos uma transição civilizatória sem precedentes…

O que seriam as forças? O ambiente, a história, a cultura, a hospitalidade da comunidade?

E as fraquezas? A falta de gente capacitada para o trabalho? A falta de visão a longo prazo?

E as oportunidades? Aumento de casos de stress entre os moradores de centros urbanos? A procura por viagens para desopilar?

E as ameaças? A falta de políticas públicas pra amparar investimentos maiores? Alta concorrência?

A comunicação para a sustentabilidade requer uma linguagem precisa para os stakeholders, para que todos os envolvidos entendam os porquês de se adotar determinadas medidas.

O contexto dos resíduos pode ser usado para vários exemplos. O que significa na gestão de um hotel fazer a correta separação dos resíduos? O que envolve todo esse processo? Capacitação, sinalização de lixeiras, acordos com pessoas para fazer a compostagem, destinação, contatos com pessoas/empresas da cidade.

Ou seja, para haver ações de sustentabilidade, é preciso de uma comunicação cristalina para cada fase do processo.

Isso envolve também a elaboração de protocolos de funcionamento, atitudes de camareiras, avisos para os hóspedes etc. Outro tipo de contexto ambiental também pode ser citado sobre esse contexto: horário de silêncio. Para uma família ou grupo de amigos não fazer uma festa que entre madrugada adentro incomodando outros hóspedes, ela precisa ter sido avisada sobre as regras do local.

Ou seja, a comunicação para fomentar a sustentabilidade, o equilíbrio deve partir principalmente de quem deve dar o exemplo para os demais.

Comunicação COMO Sustentabilidade

Nesse ponto vamos falar de materiais, produtos. Como as formas, os instrumentos que servem para comunicar podem transmitir a necessidade da sustentabilidade?

O material deve estar em sintonia com a comunidade que está sendo inserida. Por exemplo, o que o material do banner comunica? Banner feito de lona plástica é um material que pode ser reaproveitado, reciclado? E se o banner fosse feito de pano, de juta ou algodão por uma costureira local?  No banner de pano é possível costurar, pregar com alfinetes e ser reutilizado incontáveis vezes.

Já recebi cartões de visita de tetrapak, de folha de verdade, de madeira etc.

E também tem materiais que são anti sustentabilidade que não deveriam ser usados, como EVA, por exemplo. Importante saber o que é realmente encaminhado para reciclagem na sua região, pois isso varia muito.

Para isso, sugiro fazer essa equação:

Qual é o custoXbenefício: para as pessoas, para o planeta e para o empreendedor. Por exemplo, o café. O Nespresso é sustentável e prático para quem?  É possível fazer café com menos impacto? Há quantas formas de fazer café? Qual ocasião pode ser ofertado um café com prensa francesa, que é fresco e não precisa de filtro? A qualidade do café compensa? Ou seja, antes de se tomar uma decisão de comprar um tipo de fazer café é importante pensar vários tipos de situações que as possibilidades apresentam.

 

Comunicação DA sustentabilidade

A comunicação das ações que merecem ser reconhecidas para promover maior conscientização entre as pessoas pode servir não só como benchmarketing como para engajar pessoas que antes não tinham se ligado de determinadas coisas.

Os estabelecimentos podem contribuir com a evolução da conscientização das pessoas? Queremos que nosso hóspede, nosso consumidor também se engaje na adoção de práticas mais sustentáveis?

A comunicação da sustentabilidade é aquela que informa o que está sendo feito pela sustentabilidade para o público que paga pelos serviços, que pode virar cliente etc. No momento em que está no hotel, geralmente o hóspede está mais relaxado, aberto para o aprendizado e a novas experiências. É uma ótima oportunidade de conhecer mais sobre questões que passam batido no seu cotidiano.

Por exemplo, como a instalação de painéis solares para geração de energia, já se conseguiu economizar X na conta de luz. A lavagem de toalhas gasta em média X litros de água. Então, se eu não lavar todos os dias, menos água será utilizada (isso para hotéis em lugares de escassez de água é fundamental). Também vale para o restaurante anunciar o quanto da produção envolve alimentos orgânicos e locais. Já vi inclusive um aviso em um buffet da porcentagem de orgânicos utilizado em uma determinada refeição.

Mas, atenção, a transparência na comunicação da sustentabilidade é fundamental. É crucial ser honesto e dizer o nível em que está o processo de instalação de determinada medida. Não existe um empreendimento 100% sustentável no mundo, a sustentabilidade é um processo, um caminho a ser seguido. Tudo gera algum tipo de impacto.

A comunicação da sustentabilidade precisa ser muito cuidadosa. É tipo um telhado de vidro, corre o risco de se manchar a reputação de uma empresa. Aí entra o greenwhasing, cuja tradução é lavagem verde. Onde se diz que faz isso ou aquilo, mas na verdade, não é bem assim. Veja essa matéria feita pela CNN que cita casos desse tipo.

Vamos pegar de novo o exemplo de resíduos. Em cidades ou mesmo estabelecimentos, é comum as pessoas separarem os resíduos e depois eles serem misturados. Isso detona com a reputação do processo. E dificulta o engajamento na separação, abala a credibilidade. Ou seja, se há divulgação de que se separa os resíduos é preciso garantir que a destinação final e também o gerenciamento seja, de fato, realizado. Então, se há separação, quem garante que a cooperativa que recebe dá a destinação adequada para cada tipo de resíduo está cumprindo que diz? E aí entra também o licenciamento, o relacionamento com vários steakeholders.

Nessa parte de comunicação da sustentabilidade também vem um dos trabalhos de construção da reputação da marca: ações de assessoria de imprensa. É muito legal quando uma reportagem divulga aspectos positivos de um local sem que se precise pagar ou anunciar em um veículo.

O futuro exige engajamento pela sustentabilidade

Desde o início dos anos 2000 um grupo vem trabalhando por estratégias, princípios, critérios e para a consolidação de normas para um turismo mais sustentável. Existe a Comissão de Estudos sobre Turismo Sustentável da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, para o Turismo Sustentável. Qualquer um pode participar desse processo.

Estamos na década da restauração de ecossistemas, estabelecida pela ONU, daí a importância do turismo regenerativo, (em rede, pensa o ambiente como um todo, na sua bacia hidrográfica, que depende do engajamento de todos stakeholders) que vai além da sustentabilidade, onde as pessoas se comprometem em deixar os locais ainda melhores do que encontraram. Confira aqui  um texto bem interessante sobre turismo regenerativo.

Clique aqui para conferir a minha apresentação no YouTube do Receitas para ser feliz

Clique aqui para conferir o encontro na íntegra, com apresentação e respostas às dúvidas dos participantes no meu canal no You Tube

 

Esse artigo foi publicado originalmente no sler.com.br

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