Sustentabilidade na prática

Todos podem fazer a sua parte para deixar a cidade melhor, com mais qualidade de vida

Esse assunto rende muito pano pra manga. Mas vou arriscar aqui pontuar coisas que considero importantes. Primeiro, não pode ser fogo de palha. Isso é bem comum em governos que fazem lançamentos, anúncios de programas que acabam morrendo com a mudança da administração. Por isso, acredito, que a conscientização precisa tocar o coração das pessoas para que esse movimento evolua e comunidade abrace a ideia. Ou seja, o envolvimento da comunidade é vital. E há necessidade de se ter lideranças com vontade de fazer a coisa funcionar.

Em casa, a prática para deixar um rastro da nossa existência menos impactante, precisa ser legítima. Não de mentirinha. Sem greenwhashing (lavagem verde). A pessoa ou o grupo deve ter consciência do seu impacto no mundo. Então vou elencar algumas coisas que considero os primeiros passos para que cada um, em sua morada, seja um pouco mais sustentável.

Mas, antes de mais nada, é essencial compreender que a sustentabilidade, que hoje tanta gente se refere a ESG (Environment, Social e Governance, da sigla em inglês), é um novo nome para questões que vem sendo trabalhadas há muito tempo. A diferença é que hoje os acionistas das empresas estão preocupados com a reputação das empresas, pois isso interfere no seu valor no mercado. Cabe lembrar que a sustentabilidade é um processo. Nenhuma empresa, indústria, negócio é 100% sustentável. São adotadas medidas para que o impacto seja menor que o que já se vinha praticando.

É claro, porém, que isso pode ser mais fácil entre as novas gerações ou entre pessoas que tem esclarecimento e que sabem o quanto suas escolhas são decisivas para melhorar ou piorar o mundo.  E também há uma linha tênue entre manter a esperança acesa e achar que nada tem solução, que o futuro da humanidade (e da cidade) está caminhando rumo ao precipício. Por vários motivos, prefiro procurar a luz no fim do túnel.

Então, vamos lá, quais são os primeiros passos para sermos mais sustentáveis numa metrópole brasileira?

ABAIXO AO DESPERDÍCIO

Evite o desperdício. Isso significa comer tudo que colocou no prato e consumir o que comprou. Jamais deixar estragar algo na geladeira. No Brasil, os índices de desperdício são imorais. Estima-se que um terço dos alimentos são desperdiçados, desde que saem das plantações até o consumo final. Deixar a luz acesa, o ar-condicionado ligado sem necessidade são outras condutas que precisam ser evitadas, como o uso racional da água.

CONSUMA COM CONSCIÊNCIA

Preciso mesmo comprar algo? Se preciso, posso comprar de produtores locais? Por exemplo, é muito melhor para o planeta, para as pessoas, para o meio ambiente comprar alimentos frescos de feiras orgânicas. Especialmente se esses locais são formados por pessoas que produzem os hortifrutis próximos à cidade. Compre o que precisa, prefira produtos locais para fortalecer a economia da sua cidade. Porto Alegre, por exemplo, é a capital com o maior número de feiras orgânicas consolidadas do País. E isso é resultado de um longo processo de mobilização da sociedade. Sugiro que você pesquise o que significou o trabalho da Cooperativa Coolmeia.

OPTE PELA DURABILIDADE

Se for comprar uma roupa, objeto, opte por produtos duráveis, que sejam de boa qualidade. Melhor ainda comprar algo usado. Há muitas razões para adquirirmos peças em brechós. Há cada vez mais espaços que vendem roupas e objetos de segunda mão em boas condições. Só que para isso, é preciso ter mais tempo, gostar de garimpar por onde passa.

GASTE MENOS ENERGIA

Quanto menos energia e recursos você precisar para viver melhor. Isso significa que suas opções a todo momento, podem impactar onde você vive.  Ande a pé. Desfrute das novidades, aprecie observar as árvores, a arquitetura. Ao morar perto da escola do filho, do local de trabalho, não vai exigir tanto tempo, nem combustível, dinheiro para se locomover. Fazer pequenos deslocamentos de bicicleta ou a pé, seria o ideal. Se você puder consumir energia e água que o local onde você mora gera, seria show!

SEJA RESPONSÁVEL PELOS SEUS RESÍDUOS

Tenha responsabilidade sobre os seus resíduos. Além de separá-lo, importante que você saiba para onde está indo o resíduo que você dispensa. Nem pensar largar na rua aquilo que não quer mais. Sempre procure saber qual é a destinação adequada para os tipos de resíduos.

EXERÇA SUA CIDADANIA

Procure exercer sua cidadania, isso significa que você se importa com o que acontece ao seu redor. Participe de campanhas que fortaleçam a comunidade, a construção coletiva. Fique por dentro de processos participativos. Avise a prefeitura, os meios de comunicação, as instâncias responsáveis sobre vazamentos de água, buracos na via, problemas de qualquer natureza que aconteçam na rua. Esse é um ponto que atinge nossa cultura. Se não participamos de uma reunião de condomínio, por exemplo, não temos direito de reclamar da falta de limpeza do prédio.

ESPALHE AMOR

Como o nível de pobreza aumentou nos últimos anos, há mais gente catando resíduos pela cidade. Procure ser amável com as pessoas que pedem ajuda, que estão na luta ou que estejam em uma condição de vida diferente da sua. A sustentabilidade começa dentro do nosso coração. Muitas vezes, a pessoa que dá, que ajuda se sente mais feliz e realizada do que aquela que recebe.

CONECTE-SE COM A NATUREZA

Descubra o poder de se conectar aos seres vivos, à paisagem. Quando sentimos lá no fundo o quanto somos parte da natureza, o quanto as árvores, o verde é importante para atrair tantas formas de vida, nossa existência faz mais sentido. Assim é possível captar o quanto está tudo interligado. Por isso, que considero as plantas em nossa volta indicadores de qualidade de vida. Mais árvores significam clima mais agradável, mais pássaros, menos alagamentos, melhor qualidade de vida.

PROCURE SE INFORMAR (MAS DE FONTES CONFIÁVEIS)

Procure se informar sobre o estado das coisas. Esse é um ponto crucial, pois muita gente nem quer mais saber das notícias para não se incomodar. Só que o rumo da política, por exemplo, vai indicar as tendências que podem acontecer no lugar onde você vive. Só para ter uma ideia, com uma Câmara de Vereadores, cuja maioria é pouco sensível às demandas de quem defende a qualidade de vida para todos, é muito mais provável que a cidade seja construída para quem colocou esses vereadores lá. Aliás, você já se informou quem financia as campanhas dos políticos eleitos?

PROCURE SABER A HISTÓRIA DA CIDADE

Conheça a história de onde você vive. Sabia que o Mercado Público de Porto Alegre existe ainda porque a sociedade se mobilizou contra a sua demolição? Sabia que há muitas árvores e parques em Porto Alegre porque anos atrás ambientalistas, como o Augusto Carneiro reivindicaram cuidado com o verde? Se hoje há determinados procedimentos para se erguer um empreendimento, um condomínio, é porque houve gente que batalhou anos atrás para que os impactos de uma construção fossem considerados (isso é o que se chama licenciamento ambiental).

ABRA SUA MENTE

Tenha a mente aberta e converse com grupos diferentes do que costuma frequentar. É muito comum vivermos em guetos, em grupos onde as pessoas pensem igual a nós. Só que isso além de empobrecer nossa visão de mundo, impede de conhecermos gente que está fazendo a diferença, que é interessante, mas vive em contextos distintos do nosso.

PARTICIPE DE GRUPOS PROPOSITIVOS

Participe de algum grupo, coletivo, associação que faça algo de bom para a comunidade. E aí, pense. Onde suas características podem ser mais úteis à sociedade. Se você gosta de conversar, acolher, escutar, quem sabe alguma instituição que trabalhe na educação ou no acolhimento de pessoas? Conhece as organizações que trabalham pelo bem comum?

REFLITA SOBRE O QUE VOCÊ GERA

A manutenção, o cuidado com todos os seres vivo onde você mora tem uma íntima relação com a nossa cultura, nosso comportamento enquanto sociedade. Se você mora em apartamento, conviva em harmonia com os vizinhos. Respeite os ouvidos de quem mora perto. Procure ser útil no condomínio ou bairro onde vive. E, sempre, digo sempre que possível, cumprimente seus vizinhos.

Teria muitas outras coisas para pontuar. Mas vou ficando por aqui. A máxima para mim é: “Nada faz tanto bem como fazer o bem”.  Confesso que às vezes é mais difícil sabermos o que é o melhor, o que seria o bem no contexto em que estamos. Por isso, que, ao convivermos com outras realidades, conheceremos pessoas diferentes das nossas bolhas, teremos mais condições de perceber o que realmente é melhor para o planeta. Há situações em que você pode estar achando que está fazendo uma grande coisa, mas, na verdade, pode estar provocando um problemão no futuro. Um bom exemplo disso é quando os pais promovem uma festa de aniversário para o filho onde é usada uma profusão de descartáveis e ainda oferecem um monte de quinquilharia que não podem ser recicladas ou que não são encaminhadas para a coleta seletiva. Tudo isso, vai trazer problemas para o futuro do seu filho.

Evento Zispoa reuniu num dos painéis, como palestrantes, o professor Luiz Carlos Pinto da Silva Filho (secretário de Inovação de Porto Alegre), Sílvia Marcuzzo (POA Inquieta), Lígia Miranda (Instituto TodaVida), Roberta Dias da Silva (Associação Cultural Vila Flores) e Maristoni Moura (Coletivo Ksa Rosa)

Confesso que pode ser chato para muita gente essas condutas. Por isso, fiquei encantada ao participar do evento de comemoração dos sete anos da ZisPOA – Zona de Inovação de Porto Alegre, no sábado, dia 3 de dezembro. Lá, conheci várias pessoas que estão nessa vibe. Estudantes apresentaram projetos para a cidade ser mais sustentável.

Participei de uma mesa com outras pessoas que falaram o que estão fazendo para a cidade ser melhor de morar. Falei sobre algumas coisas que faço no coletivo POA Inquieta, do qual sou uma das articuladoras. No final, alguns alunos entraram em contato e fizeram as perguntas abaixo. Foi uma das tarefas de uma cadeira do curso de administração da UFRGS.

O que o POA Inquieta está fazendo para tornar POA uma cidade mais sustentável? Na sua opinião, como a sociedade e o poder público devem agir para tornar POA a cidade mais sustentável da América Latina até 2030?

Confira a live que fiz, onde procuro responder essas perguntas. Clique AQUI.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima