O impacto da Copa e a cultura alemã no Brasil

Assim como eu, muitos brasileiros não sabem de onde vieram seus antepassados

Nós brasileiros, somos um mix de culturas. Não é à toa que o passaporte brasileiro é um dos mais desejados pelos falsificadores. Qualquer feição, tipo físico pode ser de alguém nascido do Oiapoque ao Chuí. Durante os jogos da Copa do Mundo, ficou ainda mais evidente o quanto nosso jeito brasileiro de ser é irreverente, por vezes, espaçoso, ousado. Espraiado, como diria algum gaúcho do interior. O que foi o desrespeito com o mestre Gilberto Gil?

Durante esse campeonato que envolve superlativos, bilhões de dólares, ânimos exaltados e tantos interesses, é nítida a diferença cultural entre as equipes. E tudo que os protagonistas do campo fazem repercute. Desde o que esnobam à mesa, a carne com ouro é o melhor exemplo, até a gentileza de abraçar o filho de um adversário. O comportamento, os penteados, as tatuagens desses caras influenciam gente de todo tipo. Como mãe de um adolescente que ensaia jogadas em campos de futebol desde os primeiros anos de vida, sei bem o quanto o “platinar” o cabelo, o estilo de corte, o depilar o corpo, entre outras coisas, serve de tendência entre a gurizada.

Neste ano, a Copa serviu ainda para outras finalidades, além de promover um espetáculo de garra e show de bola. Foi palco de protestos a favor dos direitos humanos (mulheres e LGBTQI+, principalmente), dois jornalistas morreram trabalhando (pelo menos, foi o que noticiaram) – isso tem um simbolismo expressivo diante do atual contexto da profissão – milhares de trabalhadores morreram durante a construção dos estádios, enfim, o Catar foi escolhido porque rolou muita grana. Moralmente esse país jamais deveria ser sede de um evento desse tipo. Tanto que vários artistas se negaram a se apresentar nos palcos dos estádios.

Não acompanho as idas e vindas da bola e do que ela move, nem vou me arriscar elencar outras coisas. O que o futebol envolve me intriga demais. Mas não vou me deter a esse ponto, pois isso envolve valores, considerações históricas etc. Quero ressaltar que, essa copa mexeu com outras questões intangíveis. O País precisava dar uma relaxada diante de tanto tempo de tensão. O término desse governo que promoveu o que há de pior em tanta gente e, mesmo a pandemia, fez com que pelo menos com a Copa, houvesse alguma união nacional. Quem ostentava a bandeira do Brasil não era só aqueles que se diziam “patriotas”.

Meu filho ficou chateado com a eliminação do Brasil por isso. Ele disse: “Pô, tava tão legal ter algo que unisse as pessoas…” Realmente, essa copa poderia servir para juntar gente que até o momento está acreditando em Papai Noel. Ter jogos com o Brasil significou alterar a rotina de boa parte dos brasileiros. Muita gente foi liberada do trabalho, muitos bares lucram alto, mas também houve quem tivesse prejuízos. Liberar as pessoas para verem o jogo é uma questão cultural. Acho que só a Argentina deve ser mais enlouquecida por futebol que o Brasil (lembram que os hermanos invadiram Porto Alegre quando teve jogos da copa aqui?).

Um pouco da Alemanha por aqui

Estou me referindo a essas questões também porque tive a oportunidade de refletir sobre a nossa cultura sulista que tem uma forte influência de imigrantes europeus. Participei de um encontro chamado de “Experiência Alemã”, promovido pelo engenheiro Lutz Michaelis, que há cerca de 10 anos vive intensamente em contato com projetos no Brasil.

O que mais me intrigou foi ficar sabendo de coisas da cultura de lá que também temos aqui, mas que nem tivemos o contato em casa. Ao chegarmos, o Lutz nos ofereceu uma bebida que é muito comum por lá: suco de maçã com água com gás, ou melhor: apfelsaftschorle. Sem saber disso, há tempo meu marido aprecia bebidas com esse tipo e preparo. Adora misturar suco com água mineral. Meu marido tem descendência e sobrenome alemão, só que quase não conviveu com esse lado da família. A parte italiana da família dele é preponderante. Só que ele apresenta muitas características alemãs. Ou seja, o jeito dele vem de outras gerações.

Lutz vive entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. E, convivendo com tantos descendentes de alemães, percebeu que por aqui a percepção da cultura “é um pouco antiquada”. Para ele, as pessoas ainda têm no seu imaginário a Alemanha do tempo da imigração. A realidade hoje é bem diferente. No encontro, o mapa do País com os estados foi aberto para que as pessoas identificassem as fronteiras e suas influências. Lutz promoveu atividades com perguntas e muita interação para que os participantes dissessem o que sabiam da língua e dos costumes.

E aí, fiquei sabendo várias coisas: sabia que onde há mais tipos diferentes de pães e de cerveja no mundo é na Alemanha? Cada reinado – lá há incontáveis castelos – tinha suas próprias receitas. Há mais de 1200 tipos de pão! Taí o fato de termos tantas padarias, comermos tanto bolo e cuca por aqui (em outros lugares do Brasil é bem difícil de se ter diversidade de pães).

Para meu desapontamento, percebi que não sei quase nada do meu lado alemão. O pai da minha mãe era descendente de alemães e minha vó de portugueses. Já meu pai é totalmente descendente de italianos, com quem tive uma convivência bem maior. Lamentável. Assim como eu, muitos brasileiros não sabem de onde vieram seus antepassados. Se entre os europeus há muitos entraves para se saber, imagina quem tem raízes africanas? Os europeus vieram para a América por opção, estavam passando trabalho. Já os africanos vieram sequestrados, obrigados a vir para cá.

Por isso, que é inacreditável e inadmissível, hoje, ter gente que seja racista por aqui! Somos resultado de um imenso caldeirão cultural! Escrevo isso porque tive muitos feedbacks sobre o artigo que escrevi aqui na Sler sobre o nazifascismo. Clique aqui para conferir.  Lutz acredita que hoje é insignificante a influência de nazifascistas na Alemanha. Ele disse que esse assunto foi trabalhado exaustivamente nas escolas.

Saiba mais sobre o projeto Experiência Alemã

Uma série de encontros para experimentar a cultura e língua alemã, considerando a diferença entre a percepção dos brasileiros sobre a Alemanha antiga e a realidade contemporânea do país. Cada encontro gira em torno de um tema, que será abordado com dinâmicas, que estimulam o cérebro, o coração, as mãos e o paladar de forma divertida e prática. As experiências serão vividas em lugares diferentes. Fotos e vídeos serão postados nas redes sociais e podem ser compartilhados pelos participantes. No final da experiência, cada participante recebe um kit-Giveaways para levar para casa.

Se você quer saber mais sobre a “Experiência Alemã”, procure o perfil no Instagram: @experienciaalema.

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