Pela valorização do Atelier Livre

Publicado na editoria de Opinião do Jornal do Comércio de Porto Alegre em 2 de junho 2022

Enquanto se fala tanto em economia criativa, inovação, mudança de mindset o lugar onde tudo isso está no DNA em Porto Alegre sofre na penúria. Com poucas opções de aulas (virtuais e presenciais), com apenas quatro instrutores de arte concursados, sem direção, o Atelier Livre Xico Stockinger da Prefeitura de Porto Alegre – local único que poucas cidades têm o privilégio de dispor, ou seja, um diferencial da Capital – passa por um processo que está deixando todos aqueles que sabem da sua importância muito incomodados. O Atelier Livre é um espaço público onde milhares de pessoas têm acesso a aulas de diversas linguagens artísticas. Mais que isso: um ponto de encontro para projetos e artistas que fazem várias iniciativas para melhorar a cidade. Para promoção do olhar que enxerga além do óbvio.

No Atelier Livre já frequentei diversos tipos de aula que evidenciam a riqueza, socioambiental e a desenvoltura cultural de Porto Alegre. Se há artistas de diferentes vertentes na Capital dos gaúchos é porque o Atelier Livre muitas vezes serviu para dar um suporte técnico, conceitual para valorizar a qualidade da produção local.
Desde antes do governo Marchesan, artistas vêm chamando a atenção sobre a necessidade de o município valorizar mais o local, que foi berço de inúmeros talentos das artes visuais, do pintor Iberê Camargo à artista gráfica Clô Barcellos, editora da Libretos e autora de centenas de projetos de publicações.
No final de maio, artistas e instrutores de arte, promoveram um “mergulho”, uma “ocupação crítica” das salas para que os alunos pudessem desfrutar da companhia uns dos outros e criar, em diferentes linguagens. Foi uma forma de chamar a atenção das autoridades. O movimento Livre Atelier Livre já realizou diversas atividades de mobilização: dois anos do Sarau das Seis, 27 exposições virtuais de artistas locais e diversas reuniões. No sábado do mergulho, lançou um manifesto reivindicando seja um espaço público para exercício da cidadania. Diz o documento: “o Atelier Livre, como ciência de ponta, traz em seu fazer a criação desinteressada que, ao fim e ao cabo, acabam conduzindo a resultados altamente relevantes para a vida, tanto individual, quanto comunitária”. Se Porto Alegre quer ser conhecida como criativa e cidade educadora, por que não valoriza espaços como o Atelier Livre?
Sílvia Marcuzzo é Jornalista e artista

 

 

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