Descobertas através da conversa com a argila

Tenho descoberto muitas coisas nos últimos tempos, depois que me abri para outras possibilidades de aprendizado. Creio que devo muito a convivência com gente de outras áreas. Estar aberta, atenta aos sinais que a vida oferece. Desde que comecei a compreender mais sobre funcionamento de grupos (fiz a formação da Sociedade Brasileira de Dinâmicas dos Grupos) senti que precisava atuar utilizando meus distintos saberes. Com o entendimento e as trocas entre os integrantes das redes da Fluxonomia 4D, então, inúmeras conexões foram sendo tecidas.

Com a Fluxonomia, percebi que minha mente precisava se abrir. Necessitava deixar pra trás crenças, certezas e assumir os outros lados da minha trajetória com as artes, as questões socioambientais, a comunicação, o jornalismo, a educação, a vivência em grupos, para fazer coisas diferentes, inusitadas, que talvez ninguém tenha feito. Talvez seja por isso que é difícil das pessoas entenderem, até terem a experiência, do que proponho nos meus encontros que chamei “Da argila ao Jardim — Dimensões da Sustentabilidade na Prática”.

A ideia é mostrar um pouco do que está acontecendo no mundo conectado, com o contexto socioambiental, praticar dimensões da sustentabilidade, promover o autoconhecimento e ainda por cima, deixar o inconsciente se soltar através da argila.

Tive o privilégio de dar uma aula para um grupo de mulheres de diversas faixas etárias, de distintas realidades. Solteiras, viúvas, casadas, separadas… A maior parte imigrante digital, que não acompanha os temas que sou ligada. Nenhuma delas era minha amiga, nem me conhecia da vida.

O núcleo do grupo foi formado durante um curso de Introdução ao Dragon Dreaming (que se você não sabe o que é recomendo muitíssimo conhecer). De lá pra cá outras pessoas vieram. Lá tive oportunidade de comunicar o meu sonho: formar um grupo que faça ações para se fortalecer internamente para agir a favor da qualidade de vida da comunidade e do planeta. Aí foi gerado o coletivo Do eu ao planeta. Digamos que agora estamos no processo de gestação. Em breve, sairão filh@s dessa configuração.

Trabalhei em muitos lugares que as pessoas que lidavam com questões socioambientais, se preocupavam tanto com o ambiente, com suas organizações, mas se esqueciam completamente do seu próprio ecossistema. Ás vezes estavam tão enlouquecidas com coisas para fazer que não observavam o que estava acontecendo em sua volta, muitas vezes, ficavam doentes. E isso posso falar por experiência própria.

Hoje vivemos em um mundo VUCA (não deixe de ver o vídeo que explica o que é isso logo abaixo). Nesse contexto, proponho um espaço de “bolhas de sobrevivência” que propicie um encontro consigo mesma ao mesmo tempo que o possibilite se situar no mundo em transição que estamos atravessando. E a argila, dos nossos primórdios, pode nos ajudar muito a deciframos os meandros do nosso presente para melhorarmos para o futuro, na minha avaliação, pois lido com ela desde 1996.

Depois de uma breve apresentação — uma falou sobre os atributos da outra, pois o grupo vem aumentando a cada encontro — propus a leitura do resumo do livro Os quatro compromissos, que conheci através da Fluxonomia.

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Os quatro compromissos

Seja impecável com a sua palavra. Fale com integridade. Diga apenas aquilo em que acredita. Fuja de fofocas e de papos baixo astral. Use o poder da sua palavra para propagar verdade e amor.

Não leve nada para o lado pessoal. Nada do que os outros fazem é por sua causa. Aquilo que dizem e fazem é uma projeção de suas próprias realidades, de suas próprias mentes. Quando você se torna imune às opiniões e ações alheias, não será vítima de sofrimentos desnecessários.

Não tire conclusões. Crie coragem para fazer perguntas e expressar o que você realmente deseja. Comunique-se mais claramente para evitar mal-entendidos, dores e dramas. Com apenas esse compromisso é possível transformar sua vida completamente.

Dê sempre o melhor de si. Viva o momento presente. O seu melhor irá mudar de minuto a minuto, será diferente nos momentos de saúde e de doença. Sob qualquer circunstância, simplesmente faça o melhor que pode e você evitará autojulgamento, autoabuso e arrependimento.

Um guia prático para a liberdade pessoal — O livro da filosofia tolteca, de Don Miguel Ruiz, Editora Best Seller

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Depois da leitura, o desafio lançado foi que nos comprometêssemos a segui-los durante as horinhas que estivéssemos juntas. E isso exige atenção. Mostrei alguns exemplos de como as redes e conexões estão se estabelecendo nesse mundo em transição. Distribui para as presentes um folheto com os esquemas feitos pela Cristiane Naves Borba, que conheci pela rede da Fluxonomia. Vale conferir o trabalho dela em www.insightbpm.com.br

Depois disso, falei um pouco dos cuidados que deveríamos ter ao mexer com a argila e que ela teria muita coisa pra dizer no momento em que cada uma se entregasse a ela.

Aqui estou dando parte da argila para a Mariana. Foto da Vivian

Distribuí a argila, que cada uma deveria limpar, misturar. Pedi silêncio. Depois de uns minutos solicitei que se mantivesse apenas uma conversa. Procurando viver a inteireza da presença. Aos poucos, cada uma foi modelando formas diversas. E o material foi evidenciando faces de cada uma. As únicas regras eram respeitar as leis que os elementos da natureza impõe, já que o barro é feito de ar, água, terra e se solidifica através do fogo.

A medida que trabalhavam, fui explicando a origem da argila. Sobre o que significa termos consciência de saber a trajetória do que fazemos. Do impacto que provocamos pelas nossas escolhas. A matéria-prima que utilizo vem de olarias da cidade onde nasci, Cachoeira do Sul (pra mim, isso tem muito significado). Também fomos conversando sobre filmes, trocando experiências e percebendo o quanto precisamos nos fortalecer para atuar na sociedade.

“Eu mergulhei na experiência e percebi o quanto é importante saber ouvir. Isso é empatia, precisamos desenvolver isso, que é tão difícil no dia a dia”, disse Ana Rolim Drescher, pedagoga empresarial. Para Ana, quem está cheio (de razões, certezas) não consegue colocar novas percepções para dentro. “Estava presente no barro, foi muito bom, me acalmou. Preciso me esvaziar. E estava justamente buscando formas de conseguir isso”. E arremata: “ocupando as mãos, vivendo o momento presente, senti que ficava com os ouvidos abertos”.

O círculo de mulheres refletindo sobre si mesmas, sobre vida, construindo as novas relações possibilitou que a energia emergisse em um clima de alto astral. Na roda, só se falou de coisas positivas. E todas estão loucas pra voltar à experiência na próxima semana. Afinal, suas peças estão vivas, esperando por cuidado.

Algumas das participantes nunca tinham experimentado se entregar ao barro. As fotos foram feitas pela Vivian Pacheco dos Santos.

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