O Festival do Barro foi promovido por um coletivo de ceramistas nos dias 9,10 e 11 de novembro de 2018 de forma totalmente colaborativa. O evento, realizado no Vila Flores, um dos lugares onde borbulha a economia criativa em Porto Alegre, possibilitou o relacionamento entre artistas veteranos, iniciantes de diversos ateliês e com formação acadêmica.
Queimas de formas alternativas, palestras, feira e realização de peças coletivas foram algumas das ações que rolaram no evento que reuniu nos três dias de programação mais de uma centena de ceramistas e muitos visitantes.
Na sexta, dia 9 de novembro, foi aberta a “Disposição”, com a participação de mais de dezenas de artistas. No sábado teve uma feira e muitas experiências na elaboração de fornos e queimas. E no domingo, ocorreram duas atividades significativas, pela manhã, uma conversa chamada pela artista Lara Espinosa, na qual escrevo o relato a seguir. À tarde, rolou uma roda sobre sustentabilidade no fazer cerâmico comigo, Rodi Nuñes e Michelle Bloedow. Como são assuntos distintos, farei um outro texto só sobre essa conversa depois.
Diversidade de participantes
Na roda de conversa, puxada pela Lara, ajudei a facilitar e pedi para que cada um se apresentasse brevemente. Quanta riqueza de experiência! Ficou muito claro que todos passam por problemas semelhantes e que a união do grupo é uma solução a ser construída. Boa parte das pessoas não se conhecia.
A seguir, o relato dos participantes, com a correção de alguns deles, pois o texto foi submetido à lista do festival no whattsApp:
Tamir Farina, do Bestiário, comentou que já passaram pelo ateliê cerca de 20 artistas. O Bestiário fica no Centro, em um Hub Criativo, no começo da Cristóvão Colombo, nº51. A ideia é transformar o espaço em uma micro galeria. O Bestiário completa cinco anos. Ele informou que há modelo vivo todas as terças das 19h às 21h. Também estavam do Bestiário, o Emmanuel, o Beto, que fez as artes do Festival do Barro.
Beto, do Bestiário, disse que o ateliê possui uma micro galeria que será transformada em espaço de trabalho, isso proporcionará a entrada de novos artistas. Beto entende que seria bom se a cada mês um artista abrisse seu atelier para os outros conhecerem. Ele acredita que na primeira reunião do ano que vem, em março, se pode fazer o agendamento da visita, uma vez por mês em um dos ateliês, de março a dezembro. E lembrou dos preceitos do Bando de Barro, que funcionava sem cobrança e de forma orgânica. “Aliás, foi dessa forma que fizemos esse evento acontecer”, reforçou.
Fábio Vasconcelos, com anos frequentando e monitorando oficinas de cerâmica no Atelier Livre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, nota que uma “Feira de Cerâmica” se faz necessária. É um desejo de grande número de artistas e artesãos da cerâmica, para mostrar e dar vazão à suas produções artísticas e utilitárias. Achou ótima a iniciativa do Festival do Barro, juntamente com a feira, e a possibilidade desta poder se desvincular do Festival, com periodicidade. Sugere aproveitar essa junção e potência de tantos ceramistas e agregar mais interessados. A ideia é que o grupo possa organizar outras feiras e afins com foco na cerâmica, inclusive levando a cerâmica para outros lugares, e assim expandir a gama de público.
Juliana Napp, assistente social, também fez aulas no Atelier Livre com Claudio Ely. Também teve aulas de cerâmica com Viviane Diehl em Carazinho. O espaço do Atelier Livre foi citado para ser utilizado como espaço de exposições de ceramistas.
Soledad, economista, é de Montenegro, fez aula com Eleonora Fabre no Atelier Livre. Saiu apaixonada pelo encontro.
Reny Diel, foi professora em São Paulo e Ceará, tem pós em história da arte. Disse que faltou a formação em cerâmica em seus estudos. Desenvolve um trabalho como voluntária para exercitar os dois hemisférios do cérebro.
Mara Pugatti, de Gravataí, disse que é iniciante, mas já tem forno de cerâmica instalado em casa. Revelou que muitas pessoas não ficam sabendo da maioria dos cursos, oficinas e workshop que acontecem no Estado.
Carla Livi, enfermeira da Pref. POA, contou que está afastada do barro, mas que quer participar das futuras funções do grupo.
Cínthia Sfoggia, artista reconhecida com atelier próprio, frequenta o espaço de Adma Corá. Lembrou da Associação dos Ceramistas do RS e colocou na roda a possibilidade do grupo se organizar de alguma forma.
Lara Espinosa, que chamou a conversa, explicou a importância do grupo ter um calendário para que todos os ateliês participem e não marquem eventos em que haja colisão de datas. Ela também sugere que os ateliês proponham abrir suas portas para troca de saberes. Foi sugerido criar uma agenda de eventos sobre cerâmica no Calendário do Google. Lara também falou do seu atelier que fica na mesma casa do Casa Nova Espaço Cerâmico. Seu sonho é abrir o atelier para crianças, em situação de vulnerabilidade. Isso seria um trabalho voluntário.
Duke Orleans (Fábio), estudante de artes visuais na Furg, foi designer gráfico por 18 anos, tem formação de nível técnico em turismo e hotelaria. Atualmente, desenvolve pesquisa de pastas cerâmicas, e no intuito de fomentar a arte cerâmica está participando do desenvolvimento de uma plataforma que conecte artistas, pesquisadores e aprendizes.
Guile, é de Camaquã, mas mora em Rio Grande. Estuda peças de Cerâmica e pesquisa em jazidas na região de Rio Grande. Uma de suas pesquisas é o mapeamento da argila (quase gres), enriquecida com feldspato feita pelos ancestrais indígenas.
Tânia Schmidt, faz cerâmica no atelier da Adma Corá. No próximo ano, a parte da frente do Atelier da Adma será destinado a cursos de cerâmica. Ela acrescenta que sua cerâmica é modelada principalmente no torno elétrico ou com barbotina no molde de gesso, produz decalques e experimenta modos de transferências de imagem e fotocerâmica. Na Adma Corá orienta grupos de alunos de modelagem no torno pelo método japonês e integra um grupo de pesquisa de vidrados cerâmicos para alta temperatura (cone 6 e 7). Cones pirométricos são elementos feitos de “esmalte” colocados dentro dos fornos para controlar/ verificar temperaturas atingidas durante uma queima. Vidrados de cone 6 e cone 7 são esmaltes formulados para uma queima que atinja 1220° e 1240° C. Os livros de cerâmica normalmente trazem uma tabela de temperatura de cones.
Miriam Gomes, a Mima, considera-se mais artista visual que veterinária. Ela trabalha em um laboratório de análises de água em São Leopoldo. Ela divide atelier com a Marcinha no Vila Flores e lembrou das muitas atuações do Bando de Barro, como a Bienal B. “O bando nunca foi institucionalizado”, recorda. Ela conclui que o Festival “nos uniu de novo”. Contou que o festival era pra ter saído no ano passado, que foi realizado do jeito que foi possível. Acredita que deu muito certo a iniciativa pois circulou uma energia amorosa e leve.
Maria Luciana Firpo, que deu oficinas sobre queimas alternativas, torno e tem seu próprio atelier, anunciou que foi convidada para participar do atelier da Marcia Braga no Vila Flores. Luciana saiu do encontro com uma lista extensa de interessados em fazer um curso sobre queima em lata.
Marta Oliveira, professora de literatura da Ufrgs, pesquisa história indígena, faz cerâmica no atelier de Katia Schames e está muito interessada em integrar a rede do barro.
Ana Elisa de Castro Freitas (Elisa de Castro), ecóloga, antropóloga, artista-educadora, atua na formação de intelectuais indígenas no ensino superior, focalizando as culturas, os pensamentos, as artes e os ambiente ameríndios. Desde 2009 é docente no curso de Licenciatura em Artes no Setor Litoral da UFPR onde coordena o projeto de extensão “Cerâmica: magia, técnica, arte e política”, em parceria com o Coletivo Arte Jangada, na modalidade de Atelier Móvel Aberto. As pesquisas investem na sustentabilidade do processo criativo, desde a coleta de barro em espaços da Bacia Atlântico Sul até a queima experimental, buscando interfaces da arte indígena com a arte contemporânea. Entre 2006 e 2008 coordenou o Projeto Kaingang de Sustentabilidade em Porto Alegre, com ações de arte cerâmica orientadas pelos ceramistas da EPA junto às comunidades Kaingang no Morro do Osso e Lomba do Pinheiro. O projeto incluiu experimentação de argilas da Bacia do Guaíba a partir dos estudos com a ceramista Adela Bálsamo, e práticas com os indígenas no atelier de cerâmica da EPA. Clique aqui para ter acesso a publicação. Suas parcerias em Porto Alegre incluem as ceramistas kaingang Erundina Vergueiro (indígena do Morro do Osso) e Iracema Nascimento (indígena da Vila Jari).
Michelle Bloedow e Paulo, tem o atelier Le Petit, que tem dado cursos regulares e esporádicos. No seu recente grupo sobre cerâmica com folhas, teve sete alunos, lotou o seu atelier. Michelle faz parte de um condomínio chamado Solar das Artes, um prédio na Tomás Flores, no Bonfim formado por vários artistas, incluindo Marcelo Melo. Atualmente, ela faz formação em Arte Terapia.
Sílvia Marcuzzo, sou jornalista, faço cerâmica desde 1996, mas só nos últimos anos me assumi como artista. Já passei por alguns ateliês em Porto Alegre e Brasília. Tenho saudades do Centro de Desenvolvimento da Expressão (CDE) que ficava na avenida Ipiranga. O espaço foi fechado pelo governo Sartori. Hoje integra o ateliê Casa Nova Espaço Cerâmico, sob a batuta de Suzana Campozani, um dos mais movimentados da cidade. Também frequenta aulas no Atelier Livre de Porto Alegre com Ana Flávia Baltisserotto.
Encaminhamentos da conversa do festival
Michelle sugeriu fazer um dia de atelier aberto no Dia do Ceramista, 28 de maio.
Será verificada a possibilidade de se utilizar o espaço do Atelier Livre para exposição de cerâmicas.
A Lara ofereceu seu atelier para a próxima reunião geral do grupo, em 16 de março de 2019, um sábado pela manhã.
Algumas pessoas precisam formar o “núcleo duro”, para agilizar algumas questões de comunicação, como a criação de um calendário de eventos no Google e ver possibilidades de divulgação das atividades. Não ficou claro quem integraria esse grupo. Mas o ideal seria ter gente com distintas habilidades, com perfis diferentes, gente que sabe lidar bem com mídias sociais e site, gente que conhece bem o universo da cerâmica etc. A maior parte, por enquanto, prefere se comunicar via WhattsApp, Facebook e e-mail.