Constelação Sistêmica, uma filosofia para solução de conflitos

Ao assistir algumas palestras e dinâmicas da II Semana das Constelações Familiares — Aplicações do Direito Sistêmico ampliei minha compreensão do porquê a nossa cultura vem reproduzindo por gerações determinados comportamentos. O evento, realizado na nova sede da OAB, em Porto Alegre, reuniu operadores do Direito, principalmente mulheres (por que será?) nos dias 17 e 18 de setembro, apresentou caminhos para se resolver conflitos. Pois o pano de fundo de qualquer desarmonia, que pode culminar em ação judicial, há algo maior que precisa ser desvendado.

O encontro trazia elementos de processos do Judiciário, que eu, automaticamente, relacionei com a comunicação. Saí me perguntando: o que está por trás da forma como nos comunicamos? Condiz com a realidade? O que nos faz interpretar as mensagens que a vida nos apresenta? De tanto tentar entender os motivos que fazem as pessoas — inclusive eu — a terem determinados comportamentos, venho investindo em diversas formas de compreender essas questões. Quando estamos em grupo, seja ele familiar, de trabalho ou de condomínio, integramos um “campo” que evidencia muitos aspectos da nossa trajetória. Confira aqui o texto que fiz quando o comportamento do gaúcho foi constelado.

Pois hoje, já existem operadores de Direito que aplicam ferramentas da Constelação Sistêmica para resolver diversos tipos de conflitos. No evento, participaram juízes, promotores, advogados, terapeutas e muitos advogados, que puderam conferir na prática os preceitos sistêmicos.

A advogada e também co-organizadora do evento Alice Brocardo de Lima durante o evento, valeu-se do exemplo da formação do gaúcho, o da lida campeira, bem dentro do “espírito” da Semana Farroupilha. Dia 20 de setembro se comemora o dia do gaúcho. E logo após o vídeo que apresentou, clique logo abaixo para assistir, ela chamou alguns integrantes da plateia para participarem de uma breve constelação sobre as gerações que formaram o povo gaúcho, com a representação do que passaram os índios, suas mães e pais, para daí formar a cultura gaúcha.

Vídeo feito por Jadir Cosme de Lazari, apresentado pela Alice Brocardo Lima na II Semana das Constelações Familiares — Aplicações do Direito Sistêmico no Judiciário

Cada integrante dizia o que estava sentindo, ao se posicionar como mãe, filho/filha ou pai. O exercício denotou a origem de muitas situações mal resolvidas da relação homem-mulher. Tudo isso para chamar a atenção do quanto relacionamentos — principalmente familiares — podem ser conflituosos devido a repetição de comportamentos de nossos antepassados. “Honrar nossas raízes faz com que nos demos por conta de quanto o nosso sofrimento hoje é um mumu (doce de leite para os que moram no RS) perto das provações dos nossos antepassados,” comentou Alice, declarando-se descendente de uma índia. Séculos atrás, era comum índias e outras mulheres serem violentadas. As meninas que nasciam desse contexto eram aceitas nas tribos, mas os meninos, depois de se tornarem homens eram excluídos.

Mas essa é apenas uma fatia do bolo, da formação do povo gaúcho, porque espanhóis, portugueses, africanos, alemães e italianos também fazem parte. Essa história não é só dos primórdios dos gaúchos, mas dos brasileiros originários, os índios. Todos os outros chegaram depois. “Os espanhóis e portugueses também fazem parte do início da nossa história, e hoje o Rio Grande do sul e o Brasil são como são em razão da história ter acontecido da forma como foi”, sentenciou a advogada.

Alice, que é pós-graduanda da primeira turma em Direito Sistêmico da Faculdade Innovare de São Paulo, explicou que está em construção como será a utilização da filosofia sistêmica no Judiciário. Ela entende que internalizar essa nova postura em processos poderá ser um ótimo caminho para resolução de conflitos e que ainda desperta a consciência do papel de cada parte na ação. Atualmente, as Constelações são utilizadas em diversas varas do País.

No evento, estiveram presentes o precursor do Direito Sistêmico no País, o juiz Sami Storch do Tribunal de Justiça da Bahia e diversos outros operadores de Direito que estão utilizando a filosofia. Clique aqui pra conferir a palestra dele no Workshop Inovações na Justiça: O Direito Sistêmico como meio de Solução Pacífica de Conflito, no auditório do Conselho Nacional de Justiça.

A frase utilizada explica uma forma de liberação de emaranhamentos familiares: a mudança do padrão, e o considerar o passado com amor e gratidão. Só assim é possível transformar uma maldição em benção, conforme Bert Hellinger, criador das Constelações Sistêmicas.

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