Respira…e inspira

Saúdo a SLER, um novo lugar de encontros de referências pela civilidade

Salve, salve, está nascendo a SLER, uma opção para que as ideias possam ser melhor desenvolvidas, ordenadas. Destinado a quem gosta de ler, descobrir novas vozes. Parabenizo o Luiz Fernando Moraes, criador deste espaço, um cara que conheci de vista nos tempos em que a Prefeitura de Porto Alegre sabia o quão importante era valorizar as iniciativas de empreendedorismo da economia criativa.

Antes de mais nada, acredito que a SLER pode ser um espaço para ideias arejadas e pontos de vista diversos para fomentar a ação em direção a alternativas de vivermos melhor, a iniciativas de economia criativa e à regeneração, tanto interna quanto planetária. Começo me apresentando rapidamente, pois pretendo trazer aqui alguns assuntos que venho acompanhando, mas que não tem tido muita visibilidade ou debate.

Como jornalista, comecei cobrindo geral, onde me apaixonei pela área ambiental no Correio do Povo, nos anos 90. Trabalhei na equipe que montou a Secretaria do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, morei em Brasília, onde conheci tantas iniciativas de filiados à Rede de ONGs da Mata Atlântica. De lá pra cá, venho dando consultoria, fazendo publicações, estruturando formas de comunicar o quanto é vital o desenvolvimento que considere os serviços ambientais prestados pelos biomas brasileiros e o atual contexto da crise climática que a humanidade está atravessando.

Como vivemos em meio a uma avalanche de informações, atravessamos uma policrise, como chamam alguns teóricos, entre eles Edgar Morin. Então, onde devemos focar a nossa atenção para conseguirmos sobreviver com saúde mental? Sim, pra seguir adiante precisamos estar em condições de superar as dificuldades. Fiz recentemente o curso Jornalismo e Saúde Emocional: um equilíbrio possível? Os dados sobre a condição de quem lida com a cobertura dos fatos são alarmantes (mas isso é tema para outra postagem).

Daí a importância de termos essa curadoria de conteúdo. Se saiu aqui, alguém já entendeu que valia a pena estar sendo publicado. Há muitos anos venho experimentando, escrevendo e procurando transmitir a importância de estarmos atentos aos sinais que a natureza vem nos dando. Mas agora, arrisco em dizer que talvez nunca precisemos tanto dar uma esvaziada na mente inquieta, que vive conectada a tantos estímulos.

Confesso que isso é um exercício bem difícil. Sabermos hierarquizar o que é mais importante nessa infodemia. Por isso, venho refletindo: o que pode nos nutrir e o que pode nos afundar ainda mais nesse contexto? Há tantos tipos de anzóis, iscas para fisgar nossa atenção…

E nesse emaranhado de fios, de varas de pescar de tantos tamanhos, o que é urgente, o que é essencial e o que é necessário eu saber? Diante desse cenário assombroso que temos vivido nas distintas instâncias de poder – quem tem noção do que significam os retrocessos do nosso processo civilizatório sabe bem o que estou falando – o que pode ser melhor para nós, para nossos filhos, para os seres vivos?

Fotos e peças de cerâmica feitas pela autora do texto,
queima em baixa temperatura, com tintas esmalte e a frio.

Qual tela merece que meus olhos passem, meu cérebro e meu coração absorvam? Pois vou aproveitar essa oportunidade para contar um pouco do que venho fazendo para tentar manter a minha cabeça menos quente. Pois quanto mais sabemos o significado das coisas, mais precisamos saber como lidar e não adoecer com tudo que está acontecendo.

Já acompanho as notícias por newsletters, jornais, portais, lives. Tenho procurado reservar um horário para ficar por dentro do que me interessa. Faço parte de alguns grupos de whatsapp com pessoas completamente diferentes de mim e que me mostram outros ângulos das circunstâncias. São locais virtuais, principalmente, onde os participantes não ficam se lamentando, lançando memes, jogando merda no ventilador ou então sendo um ringue para disputa de quem tem a razão.

Precisamos saber como sobreviver a essa infodemia de narrativas de tantas desgraças. Em grupos de jornalistas ambientais ou de representantes de organizações da sociedade civil tem sido bem difícil assimilar tanta notícia trágica. Quanta mistura de sentimentos desagradáveis. Não só os fatos, mas a forma como são contados e ainda por não serem divulgadas ou simplesmente serem ignorada pelos veículos de comunicação que acompanho, em especial no Rio Grande do Sul. Quem está por dentro das pautas socioambientais tem sofrido mais do que nem nunca acompanhou as agendas.

Enfim, não desejo que esse texto se transforme apenas em um desabafo. Mas sim quero apontar algumas alternativas para que as pessoas mais sensíveis ou que sabem minimamente o impacto de tanta mentira e desmonte mantenham a chama da esperança acesa. Tenho feito parte de grupos no whatsapp como o Emica – Espaço para Manifestação da Inteligência Coletiva Apreciativa, onde há guardiãs que postam mensagens, imagens que nos fazem refletir sobre os lados bons da vida. Outros grupos que desfruto é o da Fluxonomia 4D, onde participam pessoas que fizeram a formação com a Lala Deheinzelin, e o da Comunidade Caleidoscópio, formada por pequenos e médios empreendedores, que convergem esforços para aprender e fazer mais e melhor. Também não posso esquecer do grupo da Cuidadoria , que oportunizou durante a pandemia os cursos de facilitação online e de liderança evolutiva. Quantas trocas e aprendizados! Já estava bem adaptada ao online, antes de 2019. Para mim não foi difícil estabelecer laços de confiança via web para reconhecer recursos culturais e intangíveis.

Tudo isso porque aprendi a valorizar o que extrapola meu limite físico. Dou muito valor às redes e às experiências online. Redes que nos conectam a contextos que fazem sentido. Uma forma de se fortalecer com energias diferentes, por afinidade. Como tenho um pé no analógico e outro no digital, assim como um no interior e outro na capital, acredito que só saindo desse eixo, furando bolhas e ultrapassando as fronteiras dos percursos da rotina é que podemos ver faróis para vencer essa escuridão. Pode ser que isso seja demais para a cultura dos nascidos nos pagos da tradição. Mas as coisas estão mudando muito rápido e o negócio hoje é a conexão de sentimentos, não importa se há telas ou não entre nós. Perdi as contas de quantas novas amizades fiz com gente de tantos cantos do Brasil que não conheço pessoalmente.

Tenho certeza: esse cenário de destruição de avanços civilizatórios vai passar. Como dizia o Quintana, “eles passarão, eu passarinho”… Mas até lá precisamos manter a sanidade. Exercitar a musculatura emocional ouvindo absurdos e não retrucando. Respirando fundo, contando até 20, exercitar o corpo e se perguntar: vale a pena eu entrar nessa discussão?  Porque logo adiante vamos estar contando para sobrinhos, netos, enfim, como era viver nesse tempo, onde a pós verdade deu as cartas em tantas mesas de decisão.

 

Esse artigo foi publicado originalmente no sler.com.br

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