Estamos envolvidos e embalados pelo plástico

O que podemos fazer com os resíduos dessa matéria-prima, já que quase tudo que nos cerca é matéria plástica?

A doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geologia da Universidade Federal do Paraná Fernanda Avelar Santos fez uma descoberta inusitada meses atrás. Durante suas atividades de mapeamento geológico na Ilha de Trindade, na costa capixaba, encontrou restos de plástico que se grudaram às pedras. São os chamados plastiglomerados, análogos às rochas sedimentares.

Esta descoberta é muito importante por vários motivos. Evidencia o quanto de resíduos acaba no oceano em decorrência da falta de gerenciamento no continente e no mar. E, também, escracha o quanto situações como essa são faces do Antropoceno. Estamos na era das consequências promovidas pelos homens no tempo geológico. O aumento da temperatura da Terra também é provocado pelo aumento do lançamento de gases de efeito estufa (GEEs).

Isso quer dizer que nós, os seres humanos, estamos funcionando como agentes geológicos, influenciando os depósitos sedimentares. Vale conferir este link.

Vale lembrar que nem todos os plásticos se comportam da mesma maneira. Alguns vão se transformando. Viram micro, nano plásticos. Entram na cadeia alimentar dos microorganismos, peixes etc. Estão por toda parte. Confira esta matéria da revista da Fapesp.  E já tem gente que está apresentando no próprio sangue substâncias decorrentes dessa matéria que foi criada a partir de subprodutos do petróleo. Microplástico é um termo usado para agrupar uma gama de diferentes materiais sintéticos poliméricos de tamanho.

Estamos todos envolvidos no plástico

Dou essa contextualizada para dizer que nós estamos enterrados nesse contexto. Dificilmente passamos um dia sem colocar a mão em algum plástico. Inclusive, esse texto só está sendo lido por você porque foi digitado em teclas desse material.  Mas, então, o que é possível fazer para amenizar esse quadro?

Hoje, uma pequena porcentagem do que é recolhido de resíduos nas cidades é destinado à reciclagem. É comum nos depararmos com canudinhos, saquinhos, pedaços de brinquedo entre outras coisas nas calçadas, parques e à beira de rios e do oceano. Lembram do horror que ficou o rio Gravataí semanas atrás? Confira aqui.

Conforme a prefeitura de Porto Alegre, 4,3% do que é recolhido dos resíduos domiciliares vai para a coleta seletiva. Um percentual acima da média nacional, que é de cerca de 4%. Um índice muito baixo, pois pelo menos 23% de recicláveis são levados para o aterro de Minas do Leão, a mais de 100km da Capital. Dezenas de caminhões carreta (que queimam diesel, ou seja, mais CO2 na atmosfera) pegam a estrada todos os dias com rejeitos dos porto-alegrenses.

Para se ter uma ideia, depois de saúde e educação, o gerenciamento de resíduos, a limpeza urbana é o terceiro maior gasto da Capital! Pagamos pela coleta, pelo transporte, pelo destino final. Quando fiquei sabendo disso, logo me indaguei: se há tanto gasto, por que não se investe mais em educação ambiental? Por que não há medidas para se diminuir o volume de rejeitos que vão para o aterro?

Em busca de soluções

Uma das soluções é investir em um gerenciamento para a melhor separação de resíduos possível. Há tantas coisas e objetos que as pessoas não querem mais e não sabem onde destinar. Para muitos, ter a segurança de que aquilo que você não deseja será reaproveitado ou reciclado por outras pessoas é um jeito de diminuir o seu impacto negativo no ambiente (e a culpa também). Só aquilo que não tem mesmo jeito de ser transformado deve ir para o aterro. Atualmente há várias empresas, cooperativas, organizações que reaproveitam ou encaminham para a reciclagem diversos tipos de materiais. Isso evita diversos problemas.

Esse processo de separação precisa ser pensado na sua casa, no seu condomínio, antes de ir para rua. Você pode separar em várias categorias. O que pode ser doado, reaproveitado, que vai para a reciclagem. Mas, veja bem, por incrível que pareça ainda tem muita gente que não caiu a ficha ainda sobre a responsabilidade compartilhada que temos com relação aos resíduos, conforme preconiza a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

As caixinhas de leite ou tetrapak, por exemplo, são reaproveitadas pelo pessoal da Brasil sem Frestas. Esse movimento forra casas de madeira que tem furinhos onde o frio entra. Muitas casas já passaram por esse processo.

Guarda-chuvas e guarda-sóis quebrados, que geralmente iriam para o aterro, pois o tecido não pode ser reciclado, são encaminhados a grupo de mulheres que transformam o naylon impermeável em sacolas, bolsas e até sacos de dormir.

Cascas de frutas, restos de alimentos, folhas e tanta coisa pode virar adubo. É possível processar esses dejetos de várias formas. Pode ir para uma composteira, ser triturado e colocado em vasos de plantas ou até mesmo sendo recolhido por empresas especializadas. Elas devolvem o que era “lixo” em adubo.

Esses são apenas alguns exemplos. Pois nada se perde, tudo se transforma, já disse Lavoisier em 1777.

Ao você destinar de forma mais adequada o seu resíduo, você não contribui para agravar ainda mais esse problemão para as futuras gerações. Hoje há cada vez menos lugares para destinação. E todo dia surgem novas embalagens que exigem mais tecnologia para sua reciclagem. Por isso, o ideal mesmo seria não gerar resíduo (por isso que em muitas feiras orgânicas não se usa mais saquinhos plásticos). Mas se gera, o melhor é encaminhar para o reaproveitamento ou reciclagem. E só, em último caso, enviar para a destinação final.

Costumo dizer que os resíduos são a ponta do iceberg do nosso impacto no planeta. São visíveis, na maior parte das vezes. E comunicam tanta coisa… Nossos valores, nossos interesses, nosso consumo e até o apreço que temos pelo ambiente que estamos deixando para nossos filhos, sobrinhos, netos, bisnetos…

Venho acompanhando esse tema há alguns anos. Confira alguns artigos e reportagens.

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Foto da Capa: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

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