Todo dia é dia da natureza

Com o Dia Mundial do Meio Ambiente chegando, não há muito o que comemorar

Na próxima segunda, dia 5, é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. E justamente por esses dias essa pauta tem provocado calafrios, desapontamentos e festejos pelo lado de quem ainda não compreendeu direito o funcionamento da natureza. De um lado, o Congresso Nacional aprovando o marco temporal, por outro manobras dentro do próprio governo para que seja feita a exploração de petróleo na margem equatorial.

O que está em jogo é o futuro não muito distante da humanidade. Se você ainda não viu o filme “Não olhe pra cima”, sugiro que assista. É mais ou menos aquilo que estamos atravessando enquanto transição civilizatória. São visões de mundo que estão se enfrentando. Como um cabo de guerra. E a atmosfera, os oceanos, o planeta, seguem esquentando.

Até agora quem deu as cartas na mesa foram sempre homens. E brancos, grande parte das vezes. A maioria de meia idade ou mais e com muita, muita grana e de vários segmentos. Dá para citar alguns: indústria de tudo que envolver os combustíveis fósseis (leia-se plástico, petroquímica), agropecuária, mídia e até a que move a fé de milhões de viventes.

Vivemos imersos na perspectiva que esses caras determinam. O que devemos vestir para estar na moda. Que remédios podem ser consumidos. Enfim, o esquema que um pequeno círculo de milionários define é o que as massas, acostumadas a estar no brete, seguem. E todo mundo está nessa. Inclusive eu.

No sistema capitalista onde estamos inseridos, os interesses para a manutenção do status quo utilizam artimanhas, trejeitos e jogadas de todos os tipos para que não se evolua. Isso pode ser constatado em vários cenários. Isso não é novidade para quem acompanha os embates que a imprensa registra e as redes sociais repercutem. Há várias camadas de disputas onde o jogo do lucro a qualquer preço tem ganho batalhas, nessa guerra entre o rochedo e o mar. O Código Florestal é um exemplo. Outro é o que querem fazer com a Lei da Mata Atlântica. É nesse bioma que moram mais de 70% da população brasileira, onde a especulação imobiliária é uma das ameaças (os planos diretores que o digam).

Forças da visão imediatista, da ganância e de uma visão míope de sustentabilidade a longo prazo lançam mão de estratégias para subverter estruturas sociais, inclusive poderes constituídos, como o legislativo e o executivo. Já vivemos mais de 20 anos do novo milênio, mas os valores e as aspirações do século passado ainda comandam as mentes de boa parte dos tomadores de decisão. Entre as certezas da era do petróleo, surgiram figuras como a Greta Thumberg, que sabem que o futuro está sendo decidido agora. Ainda bem que lideranças dos povos indígenas vem conquistando espaços.

O mais inacreditável (acredito que nossos netos e bisnetos vão perguntar) é que hoje já se sabe o impacto para a humanidade quando se decide atacar os povos que conservam a floresta. Coisa que meus pais e avós não tinham ideia. Os cientistas têm alertado de várias formas que o clima está mudando e que não só a Amazônia, mas os ambientes naturais são cruciais para termos aquilo que qualquer ser vivo precisa: água.

Alguém sobrevive sem esse precioso líquido? Para tratar de todas as implicações que esse tema envolve – qualidade, quantidade, fluxo etc. – vários mecanismos foram criados nas últimas décadas (comitês de bacia, conselhos, agências, legislação) e estão sendo destruídos pelos “representantes do povo” ou até mesmo carcomidos por dentro de governos pouco comprometidos com a participação da sociedade, ou seja, com a democracia.

A civilização europeia vem há tempo se achando o centro do universo, dominadora de tudo. Os bandeirantes, os “descobridores” e tantos outros impuseram seu modo de olhar o mundo por onde passavam.  E ainda hoje tem gente que acredita que pode plantar até o último metro na beira de cursos d’água. Só que a relação da água com o ambiente e também dentro de nós é determinada por variáveis que são ditadas por leis da natureza. Se tem água, há várias formas de vida: insetos, anfíbios, répteis, enfim, uma cadeia está atrelada ao tipo de ambiente que se apresenta.

No Brasil, e em muitos estados e municípios, estamos enfraquecendo, desidratando os organismos, a legislação que trata dos vários lados que envolvem a proteção da água. E o pior: todos saem perdendo para que alguns poucos saiam ganhando no curto prazo. Pra começar, para haver nascentes é preciso ter áreas de ambiente natural conservadas, florestas, turfeiras, banhados. É essencial termos formas de reter a água.

E os tomadores de decisão acham que eles é que mandam na natureza! Ora, tudo é definido pelo clima. Tudo. Ah, desculpa. Nem tudo. A cabeça de ultra capitalistas e negacionistas acha que a água é completamente domável.

E o óbvio precisa ser explícito. O comportamento e os estágios da água são ditados pela natureza. O lado que ela corre, as condições que ela evapora e tantas outras coisas, são determinados por mecanismos de funcionamento que não são estipulados pelos seres humanos.

Agora me diga. O que define como você vai sair na rua? O que vai vestir? O que indica o modo de vida de um povo? Tudo vem do ambiente onde estamos inseridos. Só que para nos darmos conta disso precisamos nos conectar minimamente com o que nos cerca: o ar que respiramos, a paisagem, as formas de vida. Enxergar muito além do recorte da janela. Pois o sistema no qual estamos submersos prega justamente o contrário: consumo de supérfluos, atrações artificiais, rotina de telas de todos os tamanhos para prender nossa atenção.

A humanidade esqueceu que todo dia é dia da natureza (aliás, estou participando de uma iniciativa muito interessante com esse nome, estou editando uma revista eletrônica, que será lançada na próxima segunda, dia 5, em Viamão). Vale lembrar que nós somos parte da natureza. Nós que inventamos de colocar leite em caixa, preparar ultraprocessados e nos viciarmos em gordura e açúcar. E também inventamos muitas coisas boas. A expectativa de vida aumentou, as condições de vida melhoraram muito do século passado para cá.

Então, se esse é o cenário, o que podemos fazer para sobreviver sem ficar doente, abalado, com tudo que tem acontecido? Bom, isso já é assunto para outro texto. Acredito que ter esperança é algo como a respiração. Levantar e sentir que vale a pena sair da cama é a primeira lição que a natureza nos dá. Somos natureza. Ela não desiste. Nunca. Por essa e muitas outras vivo aprendendo de jeitos diferentes o quanto todo dia é dia da natureza. É preciso estar atento, especialmente a nossa própria natureza.

No Dia Mundial do Meio Ambiente, na próxima segunda, 5 de junho, será o lançamento da iniciativa Todo dia é DIA da NATUREZA no Espaço de Arte Viandantes (Rua Teresa Sica Nunes, 566 – Centro) em Viamão. O evento começa às 19h e terá a transmissão no canal do YouTube Viva + Feliz e na fanpage do Facebook de Alê Fraga.

Estarão presentes o idealizador e coordenador da iniciativa, Luiz Henrique Machado, conhecido como Ico Feijó, e convidados que estão fazendo parte desta ação. Na oportunidade, será apresentada a revista eletrônica que tem o mesmo nome da iniciativa Todo dia é DIA da NATUREZA.

A ideia é lançar sementes a fim de promover ações para uma melhor qualidade de vida com sustentabilidade socioambiental para o município e região. A publicação eletrônica estará disponível no site do EcoViamão e trará artigos e contribuições de personalidades de Viamão e Região Metropolitana. A intenção de Ico é que com a adesão de interessados o projeto se expanda em outros municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre.

SERVIÇO

Lançamento da iniciativa Todo dia é DIA DA NATUREZA

Segunda, dia 5 de junho, às 19h

No Espaço de Arte Viandantes (Rua Teresa Sica Nunes, 566, Centro, Viamão)

Mais informações: icco.feijo@gmail.com;

niltamara.gomes@yahoo.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima