A ausência da visão feminina afeta a gestão das cidades

Dentro dos temas de debate no grupo do POA Inquieta Sustentável pintou o quanto a opinião das mulheres era considerada para termos uma cidade melhor. Logo, começaram a surgir mais postagens sobre a representação delas nas decisões da sociedade, no quanto conseguem influenciar políticas públicas. Foi aí que logo surgiu a ideia de se criar um grupo pra tratar dessas questão, já que a diversidade é algo fundamental para se ter sustentabilidade.

Nosso primeiro encontro, foi dia 23 de julho de 2019, pra ouvir o que as mulheres de diferentes frentes de ação em Porto Alegre tem a dizer, a contribuir para transformar a cidade em um local com mais qualidade de vida foi em grande estilo: na sala Andrômeda do Espaço UFO, um novo ambiente para eventos, reuniões, coworking da Capital, no prédio do tradicional hotel Plaza São Rafael.

O próximo encontro já tem data, será dia 27 de agosto, em local a ser definido. O grupo ainda não é um Spin do POA Inquieta, pois conforme a última decisão do conselho de articuladores, para ser um novo spin é preciso ter sido aprovado por eles. Mesmo assim, o grupo já está criado e estamos já trocando mensagens e aprendendo umas com as outras. Há muitas iniciativas bacanas em Porto Alegre.

Foto do trio que promoveu o encontro: Daniely, Cibele Carneiro e eu, Sílvia Marcuzzo, articuladora do POA INquieta Sustentável, fiz a facilitação do grupo.

Na reunião, a consultora Daniely Votto (de óculos à esquerda), que há 15 anos trabalha com questões de políticas públicas, apresentou dados para deixar qualquer uma intrigada: “Nas últimas eleições municipais do País, apenas 649 mulheres (12%) foram eleitas em um universo de 5.570 cidades. Quanto as vereadoras, foram um pouco mais de 7 mil mulheres no total de mais de 65 mil vereadores. Em Porto Alegre, na Câmara de Vereadores são tão poucas representantes eleitas, que chega a ter uma parede com as fotos das que já ocuparam o cargo. Nenhum partido político tem como presidente uma mulher.

“Essa falta de representatividade demonstra que ainda temos um longo e difícil caminho a nossa frente, o qual temos que trilhar para que tenhamos igualdade de direitos e oportunidades. Somos 52% do eleitorado brasileiro. A cota de 30% de vagas para mulheres candidatas é muitas vezes usada como fachada pelos partidos, não abrindo espaço de verdade para candidaturas que tenham viabilidade concreta,” explica a advogada.

Algumas imagens que refletem o clima do encontro.

A ausência da visão feminina reflete no dia a dia

Uma das questões apontadas no encontro foi quanto Porto Alegre e demais cidades foram projetadas por uma visão que pouco leva em consideração a situação das mulheres. As ruas, por exemplo, tem mais iluminação na via onde andam os carros do que na área de pedestres. A mulher, geralmente é a cuidadora da família, que dá mais atenção aos idosos, às crianças, por isso usa mais vezes o transporte coletivo por dia do que o homem, que geralmente vai de casa para o trabalho. As paradas de ônibus são inseguras e desconfortáveis para mulheres, idosos, grávidas, com crianças pequenas.

Há cada vez mais exemplos de como as mulheres estão se organizando para se fortalecer e serem consideradas. A Confraria do Batom, um grupo para promover negócios entre as mulheres é um exemplo! Também há o Nuwa Coworking, só pra elas, a rede de mulheres empreendedoras e escritórios de advocacia especializado em causas ligadas ao direito da mulher.

Imagem do final do encontro. Mulheres de várias idades e moradores de diversas partes da cidade.

Depoimentos de quem participou

Participar do primeiro encontro de mulheres que buscam se unir para lutar pelo fortalecimento feminino e a real igualdade entre mulheres e homens na sociedade foi muito inspirador. Embora o mote central do evento tenha sido o olhar da mulher na elaboração e execução de políticas públicas para o planejamento e administração de Porto Alegre, vislumbrei nesta união algo ainda maior: o nascimento de um movimento com base política (lato sensu) que poderá se tornar um exemplo e sacudir a sociedade a uma necessária mudança.
Compartilhar o sentimento de ainda vivermos em um mundo machista e desigual com um grupo tão heterogêneo em diversos sentidos, fortalece ainda mais a minha inquietação quanto ao tema. Eu sou, feminista, sim. Acho o fim mulheres aderirem aos sobrenomes dos maridos ao se casarem, a sofrermos assédio sexual, já passei por isso algumas vezes em ambientes profissionais, e vejo claramente inúmeras situações nas quais somos prejudicadas. Ao mesmo tempo, somos muitas mulheres que temos essa percepção.
Se conseguirmos efetivamente atuar de forma organizada, produtiva e pensando grande, poderemos causar mudanças positivas e alcançar avanços. Creio que teremos e devemos atuar com compromisso e dar visibilidade à causa, ao grupo e às nossas intenções. Cada uma tem sua atividade profissional e este trabalho será paralelo, ao menos num primeiro momento, assim precisaremos de organização para partirmos do âmbito das ideias à ação. Me parece que deve haver primeiro um reconhecimento entre todas e, logo, uma divisão de tarefas aproveitando o que cada uma possa contribuir para o grupo decolar rumo aos seus objetivos.
Ana Paula Dixon, jornalista, assessora de comunicação

Depois de ter participado dessa reunião com mulheres incríveis, fiquei refletindo como devemos nos comunicar de forma efetiva num mundo de machismo estratificado. Os diálogos devem ser mais agressivos ou baseados em comunicação não violenta e empatia? Quais as consequências de cada maneira de expor o que pensamos? Há meio termo? Há um tom ideal para todas as situações ou é preciso ser resiliente e agir diferente a cada desafio? Tem uma fórmula? Ser ou não ser, eis a questão… Cada mulher sabe o que lhe é mais dolorido, difícil de lidar e o que lhe causa indignação. Penso que, independentemente da forma, não podemos mais calar, nos submeter e ter medo de dizer o que precisa ser dito. Alguns receptores, imersos no etnocentrismo, são incapazes de escutar e precisam de um grito disruptivo para terem a atenção mobilizada. Com outros, porém, esta forma pode ampliar ainda mais o abismo que nos divide. Tanto mulheres quanto homens são vítimas desta estratificação: temos homens incapazes de acolher e viver o que sentem e mulheres subservientes e embotadas. E a comunicação me parece a chave para estancar esta cisão milenar. Cibele Carneiro, jornalista, assessora de comunicação

Dica de leitura

Nesse encontro, foi possível perceber o quanto as mulheres precisam se reconhecer. Li um texto que me fez refletir sobre nossa atuação, justamente porque somos tipo polvo, temos braços para muitas coisas. Em outras palavras, achamos que somos a Mulher Maravilha, principalmente aquelas que são empreendedoras. Confira o texto das amigas da Fluxonomia 4D, Sandra Mara Selleste e Julia Lopes, aqui nesse link.

Vamos fortalecer nossa rede!

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